Morte e protocolos: Oncologia é isso, mesmo?

Conteúdo / Residência Médica / Morte e protocolos: Oncologia é isso, mesmo?

Muita gente acha que a Oncologia se baseia somente em morte e protocolos. Mas será que é isso mesmo? No episódio 7 da segunda temporada do Papo de Clínica, Igor, clínico formado pela Santa Casa e Rafa, oncologista e clínico formado pela USP, que também atua como editor e é um dos criadores do podcast, discutem esse assunto.

A gente achou muito importante trazer o debate também para cá! Afinal, há quem se interesse pela especialidade, mas acaba desistindo pelo caminho por não saber o que esperar. De cara, a gente já adianta: ser oncologista é uma oportunidade de ter um contato bem próximo com os pacientes e ainda oferece muitas possibilidades de carreira.

Quer ver só? Continue a leitura para ver o que rolou ao longo dessa conversa e descobrir mais sobre a Oncologia.

Por que escolher a Oncologia?

Para começar: por que escolher a Oncologia? Embora muitas faculdades não incluam essa especialidade em seus currículos, o que pode afastar os alunos do interesse em praticá-la, essa é uma área que merece ser explorada mais de perto.

Rafael revela que durante seus estudos e seu primeiro ano de residência, pensava em ser hematologista. No entanto, ao conversar com um veterano que havia desistido da hematologia para se especializar em Oncologia, percebeu aspectos positivos que desconhecia anteriormente.

No bate-papo que tiveram, os insights que rolaram foram os seguintes:

  • a Oncologia é uma opção atraente para aqueles que não gostam de dar plantões, devido à sua rotina hospitalar e principalmente ambulatorial, já que os pacientes geralmente não são internados;
  • os pacientes compreendem a gravidade de sua condição e, por isso, a adesão ao tratamento é mais alta, mesmo em casos de medicação oral, onde a ajuda de um profissional de saúde não é necessária;
  • em casos de diagnósticos de câncer, o oncologista é o principal profissional para o paciente, o que estreita os laços entre médico e paciente e coloca o oncologista em uma posição confortável, com maior valorização profissional e aceitação dos valores cobrados;
  • essa é uma especialização na qual o médico se sente valorizado e faz a diferença na vida do paciente;
  • a Oncologia movimenta muito dinheiro devido à alta demanda tecnológica e aos tratamentos caros prescritos, atraindo o interesse da indústria farmacêutica, de grupos hospitalares, etc. o que valoriza a mão de obra na área.

Por fim, segundo Rafael, o número de oncologistas no Brasil não é tão alto, fazendo com que o mercado fique menos saturado em comparação com outras áreas. Você já tinha parado para pensar em todas essas questões sobre a especialidade?

Como é a residência em Oncologia?

A residência em Oncologia é bastante intensa. No caso de Rafael, que fez sua subespecialização no ICESP, o trabalho era contínuo, de domingo a domingo, com folgas apenas em fins de semana alternados.

Durante a residência, o profissional começará a compreender a fisiopatologia e o raciocínio molecular. Ele aprenderá que, apesar de diferentes pacientes terem o mesmo tipo de câncer, eles não podem ser tratados da mesma maneira. Para cada caso, é necessário realizar uma investigação molecular que guiará o tratamento adequado.

Além disso, o residente precisa adquirir conhecimentos sobre genética, biologia do câncer, farmacologia e outras áreas importantes para determinar o melhor tratamento para cada paciente.

Afinal, a Oncologia é uma área protocolar?

Mesmo que seja comum pensar que a Oncologia segue estritamente protocolos, uma vez que o paciente já chega ao consultório com um diagnóstico definido, é relevante lembrar que esta é uma ciência focada no tratamento, e não no diagnóstico.

Você aprende a reunir sinais e sintomas e a explorar diversas formas de investigar o caso do paciente para encontrar o tratamento mais adequado para ele.

Como é a área de atuação depois da formatura?

É possível fazer muita coisa depois da formatura, não precisa ter medo! Rafael, por exemplo, atua na área administrativa de uma clínica oncológica em Natal e tem seu próprio consultório particular.

Para os oncologistas, mais do que apenas acompanhar e tratar pessoas com diagnóstico de câncer, é comum realizar avaliações de risco de predisposição ao câncer. Embora o clínico geral esteja apto a realizar essas avaliações, o oncologista pode ir mais além, estratificando o risco e identificando pacientes que necessitam de estratégias de rastreamento diferenciadas, como painéis genéticos germinativos para pesquisar síndromes de predisposição hereditária.

Em adição, o trabalho do oncologista no cuidado do paciente inclui acompanhamento contínuo e indicação de tratamentos adjuvantes ou paliativos. Menos frequentemente, envolve a rotina hospitalar e de enfermaria, atendendo consultas e acompanhando pacientes internados.

Conheça outras possibilidades de atuação para o oncologista

Além das atividades já mencionadas, o oncologista tem outras opções de atuação. Ele pode se tornar pesquisador clínico, colaborando com instituições recrutadoras e conduzindo estudos como investigador principal, contribuindo para o avanço da área.

Outra possibilidade é trabalhar na indústria farmacêutica como gerente médico ou em outras funções, a exemplo de líder de estudos clínicos, podendo, assim, estabelecer um vínculo empregatício formal.

O oncologista também pode dar aulas em empresas para implementar serviços de Oncologia e atuar com Oncogenética, entre outros. Ou seja, são muitos caminhos interessantes para seguir.

Como o oncologista lida com a comunicação de notícias ruins e com a morte?

Bom, agora vem a parte mais crítica da conversa, que trata sobre morte e Oncologia. Para o oncologista, é essencial gostar de pessoas, ter paciência e empatia. Este médico lida com pacientes e seus familiares em momentos críticos, onde as emoções estão afloradas.

Por isso, é necessário entender que, muitas vezes, as informações precisarão ser repetidas, pois a assimilação dos acontecimentos durante esse período de sofrimento pode ser difícil. Rafael destaca que o vínculo entre médico e paciente é o elemento mais nobre da Medicina.

Com a construção desse vínculo, que resulta do acompanhamento próximo, a comunicação nem sempre precisa ser explícita, pois a família e o paciente têm clareza sobre a situação e percebem o andamento do caso. Para Rafael, o maior indicativo de má qualidade de assistência é o falecimento inesperado.

Se o paciente está sendo acompanhado de perto por seu médico, todos devem estar informados e cientes de cada etapa do tratamento e da evolução da doença. O oncologista é a pessoa que estará com ele em todos os momentos, acompanhando-o em sua jornada de tratamento.

Agora você sabe mais sobre a Oncologia!

É isso aí! Agora você já sabe mais sobre a realidade da Oncologia e o que espera por você caso queira encarar a especialidade, que nem de longe é só morte e protocolos. Quem entende do assunto deu seu recado, e o próximo passo é com você, para estudar e passar na residência!Curte ficar por dentro de assuntos como este? Então siga a gente no Facebook, Instagram, LinkedIn e YouTube para muito mais!

MicaelHamra

Micael Hamra

Nascido em 1991, médico desde 2015, formado pela Faculdade de Medicina de Catanduva (FAMECA) e com Residência em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) finalizada em 2018. "Nunca quis seguir o fluxo. Sempre acreditei que existe uma fórmula do sucesso para cada um de nós. Se puder conquistar sua mente, poderá conquistar o mundo." Siga no Instagram: @mica.medway