O "mal da vaca louca": é um risco epidemiológico?

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Fala, galera! Recentemente, voltou a se falar na grande mídia sobre o “mal da vaca louca”, depois da confirmação de um caso na cidade de Marabá, no Pará. E por conta disso, houve uma suspensão na exportação de carnes do Brasil para a China, nosso maior comprador. 

Imagina a influência disso na nossa economia e no nosso cotidiano? Exatamente, é algo muito grandioso, e se tem algo que as provas de residências adoram é abordar temas da atualidade e que interferem no nosso dia a dia. 

Por isso, vamos te ajudar a entender o que é “o mal da vaca louca” e te deixar atualizado para as provas e para sua prática médica. 

Mas afinal, o que é o “mal da vaca louca”?

O “mal da vaca louca” é o nome informal dado para uma doença chamada de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), que faz parte das Encefalopatia Espongiforme Transmissível (EET). 

Trata-se de uma patologia caracterizada pela degeneração fatal do sistema nervoso central (SNC) de bovinos. É caracterizada pela presença de lesões degenerativas no encéfalo, por um longo período de incubação, com uma média de 5 anos de duração. 

A EEB é causada por um príon, agentes infecciosos de tamanho menor que os dos vírus, formados apenas por proteínas, e são resistentes a diversos processos físico-químicos. O agente causador é transmitido pela via oral, ao consumir alimentos contaminados. 

Vale ressaltar que na década de 90, era comum alimentar os bovinos com uma farinha de carne e ossos de outros animais, que eventualmente podiam conter carcaças de animais positivos.

A EEB foi diagnosticada pela primeira vez em 1986 na Europa, e em 1992 houve uma epidemia da doença no continente com mais de 37000 casos confirmados. Após isso, a forma de comercialização de carnes foi alterada em todo o mundo e a forma de alimentar os animais de criação.

Bom, legal a informação, mas porque eu como médico devo saber isso? A resposta é que a EEB pode afetar os seres humanos também, sendo uma das variantes da doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ).

O que é a doença de Creutzfeldt-Jakob?

Trata-se de uma doença que faz parte do grupo das Encefalopatia Espongiforme Transmissível (EET), causadas por um príon e que acomete os humanos. 

São chamadas assim por causa do seu poder de transmissibilidade, e devido às suas características neuropatológicas degenerativas, e por provocar alterações espongiformes (aspecto esponjoso) no sistema nervoso central.

A doença de Creutzfeldt-Jacob tem 4 formas clínicas:

Esporádica

A maioria dos casos de DCJ acontece pela forma esporádica (85%), sendo mais frequente em mulheres, e tem uma incidência de 1 a 2 casos novos a cada 1.000.000 de habitantes. 
Esta forma da doença não apresenta causa e fonte infecciosa conhecida, nem relação de transmissibilidade comprovada de pessoa a pessoa.

Hereditária

Entre 10 a 15% dos casos de DCJ acontecem por mutação hereditária no príon, decorrente de uma mutação no gene que codifica a produção da proteína priônica.

Iatrogênica

Acontece como consequência de procedimentos cirúrgicos ou por meio do uso de instrumentos neurocirúrgicos ou eletrodos intracerebrais contaminados. Correspondendo a menos de 1% dos casos. 

Variante da Doença de Creutzfeldt–Jakob (vDCJ) 

É uma outra doença priônica, que está associada ao consumo de carne e subprodutos de bovinos contaminados com Encefalite Espongiforme Bovina (Doença da “Vaca Louca”). 

Também pode ser transmitida por sangue de uma pessoa contaminada para outra. Ocorre geralmente em pacientes mais jovens, com menos de 30 anos. Sendo essa variante a que mais nos interessa do ponto de vista epidemiológico. 

Sintomas do “mal da vaca louca”

Embora a doença tenha todas essas formas, os sintomas são caracterizados pelos mesmo sintomas, sendo eles: 

  • Perda de memória
  • Dislalia
  • Perda de visão
  • Descoordenação muscular

Com a progressão da doença, os pacientes começam a apresentar sintomas como insônia, depressão, ataxia, rigidez postural, ataques epilépticos e paralisia facial.

É importante salientar que em pacientes jovens, em 60% dos casos vão abrir sintomas psiquiátricos inespecíficos, como psicose, agitação, irritabilidade, agitação e parestesias. 

Como diagnosticar e tratar a doença de Creutzfeldt-Jakob?

O diagnóstico da doença de Creutzfeldt-Jakob deve se iniciar com uma suspeita clínica, e lembrem-se do vínculo epidemiológico para iniciar a investigação do quadro. 

O principal exame para auxiliar no diagnóstico é a análise genética no príon em amostra sanguínea e a análise de líquor para detecção de uma proteína neuronal (estudo conhecido como 14.3.3). 

Porém, o exame padrão-ouro vai ser o anatomopatológico do tecido neurológico acometido.   

O tratamento da doença de Creutzfeldt-Jakob é extremamente restrito, e no momento não há nenhuma medida capaz de alterar a evolução da doença. 

Existem relatos de uso de antivirais e corticoides no tratamento, porém o mais importante é dar suporte e controle de complicações ao paciente. Importante salientar que aproximadamente 90% dos casos são fatais dentro de 1 ano após o diagnóstico.

Como prevenir a doença de Creutzfeldt-Jakob?

Pessoal, aqui é o ponto chave que temos que ter sobre essa doença. Trata-se de uma doença com mortalidade extremamente alta, então a melhor forma de combatê-la é nos prevenindo. E aqui entra a importância das medidas governamentais. 

Países do mundo todo, inclusive o Brasil, podem suspender a importação e a comercialização de carne bovina e produtos de uso em saúde, cuja matéria-prima seja originada de países que apresentaram casos de EEB autóctones. 

Além disso, hoje em dia, há um grande controle de frigoríficos e criadores de animais ruminantes. É sempre bom ressaltar a importância dessas ações em nossa economia, já que o nosso país é um dos maiores exportadores de carne do mundo. 

E trazendo para nossa prática, vamos lembrar que estamos falando de uma doença de notificação compulsória. Sempre devemos notificar casos de doença de Creutzfeldt-Jakob na suspeita, e sempre importante pensarmos num vínculo epidemiológico se estamos pensando na doença.

Importante salientar que a vigilância da EEB também é realizada pelas autoridades competentes com a notificação e investigação em caso de suspeita em ruminantes, e por vezes testagem em subpopulações específicas em suspeita. 

Vamos lembrar a importância dessas atitudes perante a comunidade internacional para a comercialização de carne bovina, como já falamos.

Ficamos por aqui!

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A Redação

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