Fala, pessoal! A oclusão arterial aguda (OAA) representa a emergência vascular mais prevalente no PS, além de ser tema recorrente nas provas de residência, assim, o reconhecimento de sua fisiopatologia e quadro clínico se faz necessário. Bora lá?
A OAA é caracterizada pela súbita oclusão de uma artéria de qualquer calibre culminando na perda de irrigação e na isquemia do segmento corporal correspondente. Clinicamente, é definida como a presença de hipoperfusão grave de um membro, de início agudo (<2 semanas).
A obstrução ao fluxo arterial causa isquemia celular e aumento do metabolismo anaeróbico, assim, ocorre uma diminuição na produção de ATP e queda do pH intracelular, levando a um influxo de cálcio e desencadeamento de mecanismos de morte celular.
Além disso, decorrente do aumento da permeabilidade capilar, há também edema tecidual e aumento da pressão hidrostática tecidual. A reperfusão gera dano adicional, com produção de espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio e ativação das cascatas inflamatória e de coagulação.
As principais causas da oclusão arterial aguda são:
O mecanismo trombótico da OAA está relacionado com a doença arterial oclusiva periférica (DAOP). A formação de uma placa aterosclerótica evolui para a oclusão completa do vaso, levando à isquemia aguda do território correspondente.
Já o mecanismo embólico da OAA é mais comum nos pacientes sem a doença vascular periférica prévia. Um êmbolo cardíaco ou trombo formado na parede de um aneurisma, até um vaso de menor calibre, com impactação em bifurcações vasculares, sendo a bifurcação da artéria femoral comum a mais manifestada.
O quadro clínico da oclusão arterial aguda varia dependendo da topografia da obstrução e da presença de circulação colateral. A avaliação clínica deve incluir:
Quanto maior for a sintomatologia, menor será a chance de resgate do membro. Durante a anamnese, deve-se investigar o estado do membro antes do episódio isquêmico.
A dor intensa, de caráter progressivo e início súbito ou de piora recente (<2 semanas) é o achado mais comum e costuma ser a queixa principal do paciente. No momento em que a dor é substituída por dormência, sugere agravamento da isquemia.
O sinal de Buerger fornece uma evidência confiável de isquemia importante avançada. Com o paciente em posição supina, elevam-se as pernas em 45o, de modo a trazer os pés 30 cm acima do átrio direito, notando-se qualquer palidez nos pés.
Se a cor não se alterar, o paciente realiza dorsiflexão dos pés por cinco ou seis vezes; a palidez induzida pelo exercício também pode indicar fluxo arterial inadequado. Depois,
coloca-se o paciente na posição sentada, com os pés suspensos.
Dentro de 10 a 15 segundos a cor deve retornar e as veias devem se encher. No pé isquêmico, tipicamente, o primeiro retorno de cor é cianótico, mudando para vermelho brilhante conforme ocorre hiperemia reativa.
Se as veias levarem mais de 20 segundos para ficarem distendidas, há isquemia avançada. Com influxo arterial gravemente restrito e dilatação crônica do leito capilar periférico, o pé fica “branco como giz” durante a elevação e intensamente hiperêmico depois de 1 minuto de pendência das pernas.
Palidez localizada ou cianose associada, com enchimento capilar deficiente, geralmente é um prenúncio de gangrena ou ulceração isquêmica.
O teste de Allen é útil na avaliação da permeabilidade da artéria radial ou ulnar, distais ao punho. Inicialmente, o paciente abre e fecha a mão; depois, cerra o punho para expulsar o sangue da mão, tanto quanto possível.
Em seguida, o examinador comprime as artérias radial e ulnar. Quando o paciente abre o punho, a mão está pálida. Depois, o examinador libera a pressão da artéria radial e a mantém sobre a artéria ulnar.
Se a artéria radial ficar patente, a mão rapidamente fica avermelhada; em caso de oclusão, a
mão permanece pálida. Repete-se a manobra mantendo a pressão na artéria radial, liberando a artéria.
As manifestações de isquemia súbita de um membro podem ser representadas pelo mnemônico dos seis “Ps”:
Atenção! Deve-se usar a ultrassonografia com Doppler em pacientes com pulsos questionáveis ou ausentes. O índice tornozelo-braquial (ITB) consiste na comparação da pressão arterial sistólica (PAS) no nível do tornozelo com a pressão arterial braquial.
A pressão sistólica do tornozelo pode ser medida precisamente com uma sonda de Doppler posicionada sobre a artéria dorsal do pé ou sobre a artéria tibial posterior.
Normalmente, essa pressão equivale a 90% ou mais da pressão sistólica braquial; na insuficiência arterial leve, encontra-se entre 70% e 90%; na insuficiência moderada, encontra-se entre 50% e 70%; na insuficiência grave, é menor que 50%.
Para facilitar o entendimento, falaremos das principais características em duas partes: características dos pacientes com OAA de origem embólica e em seguida, as características dos pacientes com origem trombótica.
Quando pensamos em OAA de origem embólica a sua principal fonte será o coração, responsável por mais de 60% dos casos, sendo a fibrilação atrial a causa mais comum. A direção mais frequente será aorta, ilíacas e MMII.
Os pacientes costumam relatar dor súbita, nunca referida. A ausência súbita de pulsação em uma artéria deve sempre levar a suspeita para uma OAA de etiologia embólica. Tipicamente, o membro acometido se torna mais frio se comparado ao membro contralateral e a área de isquemia mais relevante também se torna mais fria que sítios anatômicos mais proximais.
Já aqueles com OAA de origem trombólica a aterosclerose será a principal causa, através da sua evolução, outras causas menos comum são os aneurismas, trombofilias e iatrogenias. Diferentemente dos pacientes de origem embólica, nessa situação os pacientes irão apresentar uma história prévia de claudicação intermitente.
Em princípio, a pele da área desprovida de vascularização se apresenta pálida em comparação ao membro contralateral e alterações cutâneas também são precoces no desenvolvimento da OAA. Progressivamente, a palidez dá lugar a cianose que desaparece à digitopressão e, depois, a cianose fixa.
No paciente com DAOP, as alterações agudas se sobrepõem aos sinais clínicos de isquemia crônica já descritos antes sendo a ausência de pulsos palpáveis o marco da doença arterial. Outras alterações causadas pela neuropatia isquêmica podem ocorrer como, diminuição da sensibilidade cutânea e na força motora.
O achado mais precoce é a queixa de hipoestesia no membro. Progressivamente, ocorrem perda de sensibilidade superficial em áreas mais proximais, perda de sensibilidade vibratória, discriminativa, proprioceptiva e fraqueza muscular.
Por fim, em estágios mais avançados, há o surgimento de paralisia completa, com ou sem rigidez, além de anestesia profunda e global acometendo toda a região vascularizada pelo vaso ocluído.
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Revista de Angiologia e de Cirurgia Vascular – http://sbacvrj.com.br/novo/wp-content/uploads/2018/08/maiojunho2015.pdf
Oclusão Arterial Aguda , Bortoluzzi et. al https://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/05/883880/oclusao-arterial-aguda-final_rev.pdf
INSUFICIÊNCIA ARTERIAL AGUDA DE MEMBROS INFERIORES
Velasco IT, Brandão Neto RA, Souza HP de, Marino LO, Marchini JFM, Alencar JCG de. Medicina de emergência: abordagem prática. 2019 ;
Rosen Medicina de Emergência: Conceitos e Prática Médica. GEN Guanabara Koogan. 2019.
Formação em Medicina na Universidade Nove de Julho pelo FIES. Pesquisa no Instituto do Coração de São Paulo da Faculdade de Medicina da USP.