Mais um texto sobre oftalmologia aqui na Medway e, finalmente, chegamos à grande dificuldade do emergencista: a síndrome do olho vermelho. Essa doença é um grande desafio para o médico do PS, pois queremos ser resolutivos, mas, ao mesmo tempo, não queremos deixar passar um quadro grave para a saúde ocular.
Como resolver então? O que eu posso manejar e o que eu tenho que referenciar para um oftalmologista? Vamos tentar esclarecer essas dúvidas de uma vez por todas.
“Doutor, amanheci assim, com olho vermelho”. Essa normalmente é a frase do começo dessa consulta e a primeira coisa que vem à cabeça quando nos deparamos com um quadro de olho vermelho é: conjuntivite. Não está totalmente errado, a conjuntivite é a principal causa da síndrome do olho vermelho. Porém, devemos pensar, também, se este pode ser um quadro potencialmente grave e danoso para esse olho.
Primeiramente, vamos à definição! A síndrome do olho vermelho é a apresentação aguda de eritema na região visível do globo ocular, decorrente de um processo inflamatório do segmento anterior do olho (como a córnea, íris, corpo ciliar, porção anterior da esclera) ou suas membranas (como a conjuntiva e episclera). São muitos os diagnósticos diferenciais dessa síndrome e não é a intenção desse texto abordá-las de forma específica. Já até falamos sobre as conjuntivites alérgicas em um outro texto, que você pode conferir clicando aqui.
Existem algumas estruturas nobres no segmento anterior do olho, que são responsáveis pela transmissão do raio de luz do meio externo até chegar à retina (córnea, úvea, câmara anterior). Tais estruturas, quando afetadas, possuem um prognóstico mais reservado e o nosso papel no PS é tentar identificar se elas estão sendo acometidas. Mas relaxa, caso isso esteja acontecendo por processo patológico, é normal aparecer inúmeros sinais e sintomas que podem nos ajudar no manejo desse paciente.
O velho mantra da medicina não poderia ser diferente ao falarmos de olho vermelho: uma boa história clínica faz toda diferença. Não vou fazer o papel do Bates ou Rocco e esmiuçar como deve ser feita uma boa anamnese; deixo isso para os grandes do passado. Vou facilitar a sua vida e listar 5 perguntas chaves que devem sempre ser feitas nos casos de olho vermelho. Bora lá!
Pois bem, meus amigos, é possível realizar um exame razoável com uma lâmpada de bolso (penlight) ou até mesmo a lanterna do celular. Obviamente não chegaremos à acurácia de um exame oftalmológico na lâmpada de fenda, mas o objetivo aqui é buscar os sinais de alarme do olho vermelho, e alguns são possíveis de serem vistos dessa maneira.
O padrão hemorrágico é bastante característico e fecha o diagnóstico para hemorragia subconjuntival, cujo manejo é a simples observação.
Há também o padrão sectoral, típico da episclerite, apresentando-se em apenas uma região do globo ocular, normalmente com um formato triangular.
Se a visão não estiver afetada; as pupilas forem reativas; não há sensação de corpo estranho objetiva ou fotofobia; não há opacidade corneana, hipópio ou hifema, então é razoável que o médico do PS possa fazer o diagnóstico inicial e iniciar terapia.
Bom, já que agora você já sabe quando pode conduzir o caso da síndrome do olho vermelho, nosso artigo termina por aqui. Nosso objetivo principal hoje foi fornecer uma consulta rápida dos parâmetros clínicos que irá orientar uma conduta de referenciar ao oftalmologista ou de manejo pelo médico generalista.
Curtindo temas de oftalmologia do blog? Checa lá o nosso texto sobre glaucoma congênito. Quer saber como medicar seus pacientes da melhor maneira possível? Então aproveita e dá uma olhada no nosso Guia de Prescrições! Com ele, você estará muito mais preparado para encarar qualquer plantão do Brasil!
Nascido e criado em Niterói, médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Residência em Oftalmologia da Universidade Federal Fluminense (UFF).