Não dá para saber qual emergência vai surgir durante o plantão hospitalar, então é superimportante estar preparado para qualquer situação. Um dos casos que precisa de atenção é o quatro e a evolução da paralisia flácida aguda.
A paralisia flácida aguda é uma patologia que apresenta um quadro bem característico. É necessário entender perfeitamente a evolução para situar os estágios, saber a gravidade em que o paciente se encontra e oferecer o tratamento adequado.
Para ilustrar essa patologia, ao longo deste artigo, trazemos um caso clínico. Assim, você entenderá na prática como realizar o diagnóstico corretamente e oferecer o tratamento mais eficiente para cada caso. Acompanhe a leitura até o final e tire todas as suas dúvidas.
Como falamos, estudos de casos clínicos colaboram com o entendimento de como a paralisia flácida aguda funciona. Assim, você se sentirá mais confiante ao se deparar com um paciente acometido por esse quadro no seu plantão.
Imagine o seguinte caso: um jovem de 28 anos é trazido ao PS por ter sofrido queda da própria altura há minutos. O paciente reclama de formigamentos constantes em mãos e pés, bilateral e simétrico, há um dia. Hoje, houve piora da fraqueza muscular nos membros inferiores, não conseguindo se manter em ortostase.
Deixando o caso mais completo, os pais do paciente negam comorbidades, porém, há histórico de ‘geca’ há quatro semanas. E aí, como saber se é um quadro de paralisia flácida aguda? Será que você deve chamar o neuro ou a equipe do trauma? Acompanhe todo o direcionamento correto a seguir.
Antes de tudo, vamos esclarecer o que é a paralisia flácida aguda, beleza? A patologia pode ser entendida como uma manifestação clínica caracterizada por fraqueza ou paralisia dos membros, principalmente inferiores, em decorrência de doença ou algum trauma que afete os músculos.
Devido à perda ou à disfunção da unidade motora, embasadas pelos dados da anamnese e de um exame físico inicial, o médico busca informações para topografar o local da lesão, no corno anterior da medula, no nervo periférico, na junção neuromuscular ou no músculo.
Voltando ao estudo do caso clínico, o paciente exposto aqui tem forte inclinação ao caso de paralisia flácida aguda: pessoa que chega ao pronto-socorro se queixando de fraqueza muscular de rápida instalação e evolução, associada à alteração no tônus muscular nos reflexos profundos.
Já podemos adiantar que um dos motivos mais comuns da paralisia flácida é a síndrome de Guillain-Barré, caracterizada por fraqueza e formigamentos nos pés e nas pernas que se espalham para a parte superior, podendo ocasionar paralisia.
A partir do caso clínico demonstrado no início do texto, iremos desenvolver todo o procedimento adequado de manuseio e atendimento primário do paciente. Considere que, no primeiro momento no PS, a hipótese é que ele apresente a síndrome de Guillain-Barré. Veja os procedimentos a seguir.
1. Verifique se há sinais de falência respiratória: a fraqueza muscular é progressiva e ascendente. Eventualmente, a musculatura diafragmática ou da parede torácica pode ser afetada, e o paciente pode necessitar de ventilação mecânica. É muito importante ficar atento a sinais como incapacidade de tossir, manter-se em ortostase e dificuldade de levantar a cabeça, pois isso pode indicar falência respiratória.
2. Atente-se à hemodinâmica: o paciente pode apresentar sinais de disautonomia, como taquicardia sinusal, arritmias, bradicardia, sudorese excessiva e alternância entre hipo e hipertensão. Algumas alterações podem ser sustentadas e necessitam de pronta intervenção, como a bradicardia sustentada (atropina ou marca-passo). Contudo, devido ao caráter flutuante da disautonomia, não a trate de maneira agressiva.
3. Verifique o quinto sinal vital: a presença de dor é frequente, portanto, necessita de intervenção. Pode-se lançar mão de gabapentina e pregabalina na fase aguda da doença.
4. Lembre-se da imobilidade prolongada: esse paciente tem alteração motora. Dessa forma, lembre-se da profilaxia para trombose venosa profunda, prescrevendo dose profilática de heparina e meias compressivas.
Depois de avaliar os quatro passos citados, estabilize esse paciente, dando todo suporte no tratamento inicial. No caso clínico em que o paciente apresenta síndrome da paralisia flácida aguda, é necessária a internação, já que precisa da atuação de uma equipe multidisciplinar.
Após a internação, é importante continuar o monitoramento detalhado tanto das funções respiratórias quanto das funções cardiovasculares. Caso conste alguma alteração, o mais indicado é solicitar vaga em UTI para intensificar a avaliação diária.
Durante a internação, os casos com acometimento motor grave podem ser tratados com uso de imunoglobulina intravenosa (0,4 g/kg/dia por 5 dias consecutivos) ou plasmaférese (de 4 a 6 sessões em dias alternados).
Agora, você já entendeu de forma prática como é o atendimento, o diagnóstico e os primeiros procedimentos do paciente com paralisia flácida aguda. Que tal intensificar seus conhecimentos para saber lidar com todas as emergências do PS e garantir a recuperação do paciente? Vem com a gente!
Nascido em 1990, em Cuiabá-MT, formado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 2020. Experiência como oficial médico temporário no 37° Batalhão de infantaria leve. Residência em Medicina de Emergência na Universidade de São Paulo (USP - SP). Amante da adrenalina se interessa por resgate aeromédico, usg-point of care e medicina de áreas remotas.