Pneumonia química: o que é, sintomas e tratamento

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Fala galerinha, tudo certo por aí? Espero que sim, porque hoje o tema é um pouquinho específico! Vamos falar da pneumonia química, uma espécie de pneumonia por aspiração, desde o conceito até o tratamento. A ideia é que você fique conhecendo tudo que precisa saber sobre essa doença, para não passar aperto nenhum na sala de emergência, hein?

Em circunstâncias normais, a aspiração de pequenas quantidades de secreção orofaríngea (microaspiração), acontece mesmo em indivíduos sadios, cuja via aérea é protegida pela deglutição normal, pelo reflexo de tosse e pela anatomia da via aérea supraglótica. Qualquer perturbação desses mecanismos protetores associada a natureza e a quantidade do material aspirado pode resultar em lesão pulmonar por aspiração. 

Vocês também podem encontrar ela com o nome de Síndrome de Mendelson, caracterizada pela aspiração de conteúdo gástrico com pH < 2,5 e volume de 0,3 a 0,4 mL/kg (20 a 30 mL em adultos). Pode acometer qualquer idade, sendo mais comum em pacientes jovens e tendo como fatores predisponentes 

Como é o mecanismo da lesão?

A agressão pulmonar é bifásica e a lesão produzida é iniciada por um efeito corrosivo direto (uma a duas horas após aspiração), seguido por uma resposta inflamatória (quatro a seis horas após aspiração), em decorrência da liberação de mediadores, incluindo quimiocinas, citocinas pró-inflamatórias e recrutamento de neutrófilos.

Ok… mas como identificar isso no meu paciente? Quais os sintomas da pneumonia química?

O quadro clínico é o que vai exigir um pouquinho mais de vocês, porque os sintomas da pneumonia química são extremamente variáveis, desde tosse seca e leve dispneia até quadro agudo de insuficiência respiratória ou choque séptico. A maioria dos pacientes apresentam início súbito (minutos a horas) de dispneia, hipoxemia, taquicardia e sibilos. Usualmente sem febre ou sinal de infecção bacteriana.

Por isso, verifiquem a presença de história de aspiração!!! Perguntem ao paciente/familiar sobre o ocorrido

Ao exame físico, há possibilidade ainda de crepitações difusas, cianose, hipotensão. Caso a aspiração seja de um material sólido ou muito viscoso, bloqueando as vias aéreas, pode resultar, ainda, em asfixia

A radiografia do tórax geralmente está alterada, pode mostrar um padrão de enchimento alveolar com comprometimento bilateral difuso ou comprometimento das regiões dependentes, particularmente a do lobo inferior direito.

Diagnóstico

Clínico. O eritema e o edema das vias aéreas na broncoscopia podem ser sugestivos de aspiração. A lavagem broncoalveolar pode ser considerada para descartar presença de infecção bacteriana.

Tratamento

Manutenção da via aérea (Lembram que o A é o mais importante no ABCDE?). A orofaringe e a traqueia devem ser aspiradas para retirar qualquer material potencialmente obstrutivo. Intubação orotraqueal e suporte ventilatório podem ser necessários. O uso de corticóides não mostrou benefícios e é contraditório. A antibioticoterapia deve ser reservada para pacientes que apresentem infecções importantes.

Aproveitando, se ainda bate aquele “medinho” de intubar, sugiro dar uma olhada no nosso Guia Rápido da Intubação Orotraqueal, que traz tudo o que você precisa saber pra sempre realizar esse procedimento com segurança no seu plantão!

Os pacientes devem permanecer em observação pelo menos algumas horas no hospital. Aqueles com abscesso pulmonar têm indicação formal de internação hospitalar, só podendo ser considerada a alta quando for realizada a transição para terapia antibiótica oral. Casos com insuficiência respiratória e choque séptico necessitam de recursos de UTI. Os pacientes necessitam muitas vezes de antibioticoterapia a longo prazo e apresentam complicações frequentes; assim, seguimento ambulatorial é necessário.

Alguns diagnósticos diferenciais

Pneumonia aspirativa ? presença de sinais sugestivos de infecção como leucocitose, febre, tosse produtiva, relativamente tardia com relação ao de aspiração 

Embolia pulmonar ? quadro agudo de dispneia em geral com hipoxemia e fator de risco para trombose, como neoplasia ou uso de anticoncepcional

Tuberculose ? quadro subagudo de infecção, quadro consumptivo presente, imagem radiológica de predomínio apical

Congestão pulmonar de origem cardíaca ? outros sinais de IC associados: edema de membros inferiores, estase jugular, aumento de área cardíaca

Bronquiectasias com exacerbação infecciosa ? quadro de supuração exuberante, com episódios de infecção pulmonar de repetição

E aí, preparado pra lidar com a pneumonia química?

Resumimos nessa tabela os pontos principais para não esquecerem, viu? Sabemos que foi muita informação de uma vez. 

Masss… Podem ler e reler esse post quantas vezes precisar — o importante é que, após todo o conhecimento acumulado, você esteja pronto para atender, passando segurança a toda equipe e ao paciente.

Esperamos que tenham gostado! Se quiser ver mais algum conteúdo, que tal dar uma olhada no nosso Guia de Prescrições? Com ele, você vai estar muito mais preparado para atuar em qualquer sala de emergência do Brasil!

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E pra fechar: aqui vai um resumo de tudo que falamos no texto!

RESUMO
DefiniçãoAspiração de conteúdo gástrico, necessário:Vol. de 0,3 a 0,4 mL/kg (20 a 30 mL em adultos)pH < 2,5
ClínicaInício súbito (min a horas) ? dispneia, hipoxemia, taquicardia e sibilosUsualmente sem febre ou sinal de infecção
DiagnósticoClínico (episódio presenciado/relatado de aspiração)
Achados radiológicosconsolidações alveolares, infiltrados multifocais irregulares e consolidações lobares e segmentares
TratamentoAspiração da orofaringe e da traqueia;Oxigenioterapia, se necessárioNão usar corticoide. Usar antibiótico apenas na presença de infecção bacteriana (ex: pneumonia bacteriana por complicação)
Diagnósticos diferenciaisPneumonia aspirativa, embolia pulmonar, tuberculose, congestão pulmonar de origem cardíaca, bronquiectasias com exacerbação infecciosa

* Colaborou Gabriela Lobato Virgolino, graduanda de Medicina na UEPA

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AnuarSaleh

Anuar Saleh

Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.