Como muitos de vocês já sabem, uma boa prescrição pós-operatória de pacientes pode garantir o sucesso da cirurgia e a alta precoce, ao contrário de prescrições incompletas, que podem ser fator desencadeante para complicações e retardo da recuperação cirúrgica, acarretando em internações prolongadas.
Vamos terminar aquele assunto que começamos lá na primeira parte da prescrição, mas não tem ordem, logo você pode começar pelo artigo que quiser, beleza? Esses textos tem como objetivo deixar vocês craques na prescrição pós-operatória. Vamos lá!
Para pensarmos no que prescrever para o paciente, temos que tentar antever as complicações que ele pode ter durante a sua internação no pós-operatório. Vamos voltar para onde paramos na primeira parte!
Queixa comum entre os pacientes que ficam internados: constipação intestinal. Essa intercorrência pode causar desconforto e dores abdominais nos pacientes em pós operatório, e podemos tentar evitá-la!
Além disso, muitos pacientes só vão de alta depois da primeira evacuação, principalmente nas cirurgias do aparelho digestivo.
Nesse caso, as principais medidas são comportamentais: deambulação precoce e dieta laxativa.
Mas podemos também retirar medicações constipantes, como o tramadol e adicionar medicações que estimulam o peristaltismo intestinal, como a bromoprida e o bisacodil.
Também podemos associar essas duas medicações no caso de pacientes com abdome distendido e suspeita de gases (que também causam desconforto abdominal importante).
CONSTIPAÇÃO INTESTINAL → Bromoprida 10mg VO 8/8h; bisacodil 5mg VO 1x ao dia; deambulação precoce; dieta laxativa.
Também comum no pós operatório recente, ou por conta da própria cirurgia ou por efeito da anestesia, temos as náuseas e os vômitos. Se persistentes, eles podem atrapalhar a recuperação do paciente por impedirem a sua alimentação adequada e pelo esforço abdominal intenso, que pode acarretar em complicações em cirurgias nessa região do corpo.
Pensando em evitá-los ou controlá-los, devemos inserir na prescrição pós operatória medicações antieméticas, como a metoclopramida, que pode ser administrada VO ou EV, a depender da tolerância do paciente, e a ondansetrona em caso de êmese mais intensa (essa medicação é utilizada em pacientes oncológicos em vigência de quimioterapia, então é bem potente!).
VÔMITOS → Metoclopramida 5mg/ml (ampola 2ml) EV ou 10mg VO de 8/8h; Ondansetrona 2mg/ml (ampola 2mL) EV 8/8h.
Aqui vamos pensar em infecção de ferida operatória apenas, visto que a utilização de antibióticos na prescrição pós operatória é muito variável a depender de qual cirurgia foi feita e quais as condições no intraoperatório.
Então, visando evitar infecções de sítio cirúrgico, a principal conduta é troca diária de curativo, com limpeza local, podendo ser estéril ou não.
Essa medida, além de evitar as sujeiras e manter a ferida operatória limpa, garante que líquidos acumulados, como seroma, sejam drenados e evitem a infecção local.
Caso seja necessário medicação, a mais utilizada seria cefalexina 500mg VO 6/6h.
INFECÇÃO DE FO → Troca diária e limpeza de curativo; Cefalexina 500mg VO 6/6H.
Complicação bem comum, principalmente em pacientes submetidos à raquianestesia! Se não diagnosticada e tratada, os pacientes evoluem com bexigoma e intensa dor abdominal. Pensando nesse quadro, é importante que deixemos prescrito para o paciente sondagem vesical de alívio no caso de não haver micção em algumas horas do pós operatório.
Além disso, a analgesia otimizada pode ajudar nesses casos, já que parte da “culpa” da retenção urinária vem de dor no pós-operatório.
RETENÇÃO URINÁRIA → Sondagem vesical de alívio se necessário.
Complicação muito comum em pacientes restritos ao leito, e que por possuir um tratamento longo e complexo, é preferível evitar que as úlceras surjam!
Se esse for o caso do seu paciente no pós-operatório, ou por incapacidade do mesmo ou por exigência da cirurgia (como nas cirurgias ortopédicas), devemos deixar prescrito mudança de decúbito de 2/2H.
A maioria das enfermarias e UTI’s com pacientes acamados possui um “relógio da mudança de decúbito” para auxiliar a enfermagem nas trocas, como o da imagem:
Dessa forma, mudamos os pontos de pressão do paciente, evitando isquemias prolongadas e o aparecimento das úlceras.
Úlcera de pressão → Mudança de decúbito de 2/2H.
Além desses itens na prescrição, visando evitar as complicações mais comuns, podemos pensar também em:
Bom galera, por hoje é isso! Espero que vocês tenham aprendido como é uma prescrição padrão de pós operatório e não comam bola nos próximos pacientes!
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Médica pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro com residência em Cirurgia Geral pela Unifesp.