Oi, pessoal! Tudo bem com vocês? Hoje o assunto por aqui é sepse! Sim, essa que é uma das principais patologias das salas de emergências, das enfermarias, das UTIs, enfim, de todos os ambientes hospitalares. Não tem como deixar de aprender, né? Entretanto, hoje nosso foco é um pouquinho diferente. Já sabemos que vocês são craques em tratá-la, mas será tão simples reconhecer um paciente em sepse? E é justamente aí que entra nosso texto hoje: falaremos sobre a importância do desenvolvimento e aplicação do protocolo sepse.
Vamos lá?
Começando pelas definições clássicas: segundo o “The Third International consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock”, nosso conhecido Sepsis-3, a última revisão sobre o assunto da American Medical Association (AMA), a sepse é uma síndrome em que há alterações fisiológicas, patológicas e bioquímicas induzidas por infecção e constitui um problema maior de saúde pública. Estatísticas conservadoras indicam que a sepse é a principal causa de mortalidade e doença crítica em todo o mundo. Já o choque séptico é um estado em que há alterações circulatórias e anormalidades do metabolismo celular, ambas profundas o suficiente para aumentarem substancialmente a mortalidade.
Temos que ter consciência ainda que os pacientes sobreviventes de sepse frequentemente têm problemas físicos, fisiológicos e cognitivos que exigem significativos cuidados de saúde e têm impacto social.
Mais antigamente, o protocolo sepse universalmente aceito definia essa patologia como síndrome da resposta inflamatória sistêmica – a SIRS – do hospedeiro contra uma infecção. A sepse complicada com disfunções orgânicas era a sepse grave – termo que deixou de ser utilizado – e, o choque séptico, quando havia hipotensão sepse-induzida apesar da ressuscitação fluida adequada. Mas, em 2001, houve o reconhecimento das limitações dessas definições e os termos foram adequados em 2014, como dissemos logo ali em cima.
Não! Com certeza, os pacientes que têm sepse podem e muito provavelmente terão SIRS. O que mudou, no entanto, foi que, na ausência de critérios estritos que fechem o diagnóstico de SIRS, o diagnóstico de sepse NÃO PODE DEIXAR DE SER FEITO! E foi exatamente isso que levou, ao longo de anos, às mudanças de definições.
Apenas para relembrarmos, os critérios de SIRS:
Atualmente, o diagnóstico de sepse é definido quando há infecção suspeita ou documentada associada ao aumento agudo de dois ou mais pontos no Sequential Organ Failure Assessment Score (SOFA). E a hipoperfusão de tecido induzida por sepse é definida como hipotensão induzida por infecção, aumento de lactato ou oligúria.
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Dadas as definições, galerinha, é importante frisar que diante de um quadro de sepse ou choque séptico, a velocidade e a adequação do tratamento administrado nas horas iniciais tendem a influenciar no prognóstico do paciente! Ou seja: diagnóstico mais precoce e rastreamento microbiano mais eficaz possibilitam o rápido início do tratamento e o uso mais otimizado das variáveis hemodinâmicas e das técnicas de suporte orgânico, reduzindo potencialmente a mortalidade. Nesse contexto, pessoal, é fácil perceber a relevância da implantação de um protocolo de sepse, para nortear o atendimento de toda a equipe de saúde frente a pacientes que, inicialmente, apresentam sintomas inespecíficos, propiciando o momento ideal de se iniciar a terapêutica.
Nos Estados Unidos, a incidência estimada de sepse grave é de 300 casos a cada 100 mil pessoas. Dentre estes, aproximadamente metade ocorre fora das unidades de terapia intensiva (UTI), e um quarto dos pacientes que desenvolve sepse grave morre durante sua hospitalização. No Brasil, os estudos epidemiológicos sobre sepse e choque séptico não são realizados com a frequência ideal, com consequente dificuldade de análise e avaliação adequada de dados epidemiológicos sobre essas condições, mas, não há dúvidas da importância dessa síndrome na prática clínica, concordam?
Mais que isso, que o Brasil é um país de dimensões continentais e com população muito heterogênea, sendo, por isso, absolutamente necessário que cada região ou serviço de saúde saiba o real perfil epidemiológico dos pacientes com sepse sob seus cuidados, para definir prioridades de intervenção, com a intenção de melhorar o atendimento a esse grupo de pacientes a partir da elaboração e implementação de um protocolo sepse. A mera implementação, entretanto, não é suficiente, não é mesmo? É fundamental que haja análise constante de sua aplicação e dos resultados obtidos (feedback sempre, pessoal) para seu aperfeiçoamento contínuo. Uma vez implantado, é necessário que se avalie sua efetividade, a fim de identificar possíveis falhas e não adesão por parte da equipe, para, por meio dessa análise, reduzir a mortalidade decorrente dessa condição.
No caso da sepse, a implementação, a consistência e a efetividade do protocolo sepse puderam ser confirmadas, como demonstrados por diversos estudos que evidenciaram como o uso desse instrumento possibilitou mudanças e melhorias no emprego do tratamento, justificando seu uso como método de padronização das medidas cabíveis a tal condição.
O estudo SPREAD (Sepsis PREvalence Assessment Database), realizado em 2010 e conduzido pelo Instituto Latino-Americano da Sepse (ILAS), mostrou, por exemplo, que é fator ligado ao aumento da mortalidade a inadequação do tratamento, principalmente o atraso para administração da primeira dose de antibióticos. Nesse contexto, destaca-se como a implantação de um protocolo sepse de maneira eficiente e eficaz pode ajudar na identificação de fatores limitantes e obtenção de resultados otimizados no tratamento da sepse.
A mortalidade por sepse e choque séptico é uma das mais elevadas no país devido à gravidade intrínseca da doença. Além disso, é um agravo de elevada letalidade, especialmente nos hospitais públicos vinculados ao Sistema Único de Saúde, causando danos em nosso país, tanto do ponto de vista de vidas perdidas como do econômico. Contudo, a adoção do protocolo sepse, já se mostrou efetiva para a otimização do tratamento e consequente aumento das altas hospitalares!
Pessoal, acho que depois de toda essa leitura já ficou bem claro como a adoção de um protocolo sepse bem estruturado pode, de fato, mudar não apenas o prognóstico dos pacientes, mas também, a qualidade do tratamento e atendimento por eles recebidos, não é mesmo?
Entretanto, gostaria de lembrá-los dessa frase que carrego comigo desde sempre: “a média não é a mediana”. No geral, a sepse é uma doença bastante aplicável à média e, portanto, que se beneficia grandemente da adoção de um protocolo, mas, devemos sempre ter em mente que cada paciente é um indivíduo único e que por mais que os protocolos estejam aí para nos ajudar e nortear o atendimento da equipe como unidade, nunca devemos engessá-lo a ponto de prejudicar o paciente! Tenham sempre em mente que o protocolo sepse é uma ferramenta de ouro mesmo, mas, que o paciente vem em primeiro lugar!
É isso, queridos! Quem quiser saber mais sobre sepse, pode dar uma olhada na aula que a professora Karina Turaça deu no canal do PSMedway no Youtube!
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Nascida em Franca/SP, em 92, formou-se em medicina pela PUC-Campinas, em 2018. Especialista em Clínica Médica pela UNICAMP e completamente apaixonada por essa área cheia de detalhes e interpretações. Filha de professora e de um ávido leitor, cresceu com muito amor pelo ensino também, unindo essa paixão à medicina.
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