A relação médico-paciente é um tema pouco falado, mas bastante polêmico, ainda mais com o avançar da Medicina. Antes, a gente tinha uma noção mais paternalista do médico, sendo ele o responsável por decidir o caminho do paciente sem se importar muito com a opinião dele.
No entanto, isso mudou muito de alguns anos para cá. E é por isso que é tão importante tocar no assunto. Para ter uma visão mais ampla desse cenário, hoje você confere um resumão do episódio 9 do podcast Papo de Clínica, parceria entre o Papo de Clínica e a Medway.
Os insights são do médico intensivista Dante Raglione e do oncologista Rafael Franco, ambos cofundadores do Papo de Clínica. Então, vamos falar de coisa séria agora?
A relação médico-paciente é um elo fundamental no contexto da prática médica, caracterizado pela interação entre o profissional de saúde e o indivíduo que busca cuidados. Essa relação vai além do simples diagnóstico e tratamento, envolvendo aspectos emocionais, psicológicos e sociais.
Ela se baseia na confiança, respeito, empatia e comunicação eficaz, onde o médico busca compreender as preocupações, valores e necessidades do paciente. Por sua vez, o paciente confia no médico para fornecer orientação, suporte e cuidados de qualidade.
Uma relação saudável entre as partes pode facilitar o processo de tratamento, promover a adesão às terapias prescritas e melhorar os resultados clínicos. Essa conexão ainda é essencial para o bem-estar e a qualidade de vida do paciente, influenciando diretamente sua experiência no sistema de saúde.
Pensando nisso, segundo Rafael, sob uma perspectiva de mercado e profissional, o médico que negligencia a relação com o paciente está destinado a ser tratado como uma mercadoria. Ou seja, alguém que oferece um serviço sem valor agregado nos dias atuais.
Ele afirma que qualquer médico pode realizar uma prescrição e diagnosticar uma condição, então, isso deixou de ser um diferencial há muito tempo. Acreditar que apenas a formação acadêmica atrairá pacientes e garantirá uma carreira de sucesso é um equívoco.
Para Rafael, a relação médico-paciente se baseia em duas coisas: primeiramente, demonstrar preocupação com os pacientes sob seus cuidados; e em segundo lugar, estar acessível a eles. Ao fim do dia, isso terá um grande impacto na percepção de valor que o paciente atribui ao serviço prestado pelo médico.
Na perspectiva de Rafael, especializado em Oncologia, a conexão entre médico e paciente é crucial. Isso não apenas facilita a aplicação de abordagens técnicas apropriadas, mas também auxilia no processo de aceitação dos cuidados paliativos pela família em casos mais graves, quando ela está envolvida também nos processos de tratamento, algo que é muito importante na maioria das situações para o cuidado satisfatório do paciente..
Para completar, ele comenta que investir na relação médico-paciente garante três resultados muito importantes na carreira do profissional. São eles:
Acompanhar a jornada do paciente traz recompensas que vão além do aspecto financeiro. Atualmente, essa habilidade interpessoal é altamente valorizada pelos pacientes. Afinal, a falta de vontade em estabelecer um bom vínculo pode resultar em uma prática médica frustrante e financeiramente insatisfatória. Quando o médico percebe que cultivar vínculos pode tornar sua prática mais gratificante e lucrativa, a importância dessa atitude se torna evidente.
Há pacientes dispostos a pagar mais por um atendimento de qualidade e uma conexão mais profunda. Dessa maneira, constrói-se um cenário benéfico para todas as partes envolvidas, que pode trazer resultados ainda mais positivos nos tratamentos e procedimentos realizados.
Quando o tratamento não é mais viável, o vínculo entre médico e paciente é ainda mais significativo. As famílias tendem a aceitar mais facilmente a interrupção do tratamento quando há uma conexão significativa com o médico, assim como o paciente, que pode se preparar melhor para seus últimos momentos e ter um entendimento maior da situação. Além disso, para tomar decisões assertivas, o médico precisa conhecer e conviver com o paciente.
Na rotina de trabalho de Rafael, quando se depara com pacientes católicos — assim como ele próprio — oferece os sacramentos nos momentos finais de vida, percebendo que isso estabelece uma conexão mais profunda. Quando o paciente segue uma fé protestante ou outra vertente do cristianismo, ele procura estabelecer uma ligação com base no que compartilham em comum em suas crenças.
Essa abordagem visa criar vínculos, oferecendo conforto e proximidade por meio dos aspectos religiosos compartilhados. Rafael comenta que ainda não teve a experiência de lidar com pacientes de outras religiões além das mencionadas, e acredita que, nessas circunstâncias, não buscaria explorar o aspecto religioso, já que ser superficial não seria eficaz.
Também é importante lembrar, na opinião dele, que a religiosidade não é uma obrigação no cuidado com o paciente, mas pode ser uma ferramenta para estabelecer conexões mais significativas. Assim, se o paciente expressa uma demanda religiosa intensa, é essencial que o médico a respeite.
Porém, Rafael enfatiza a importância da autenticidade: considera inválido que um médico que não compartilha a mesma fé finja ser religioso. Por exemplo, um médico ateu não deveria fingir ser católico. No fim das contas, as questões religiosas são importantes e podem servir como uma ferramenta para promover conexões mais profundas e aliviar o sofrimento do paciente.
E você, já tinha parado para pensar em algum desses tópicos e avaliar como deve ser uma boa relação médico-paciente? A discussão iniciada nessa conversa é muito importante até mesmo para que você analise questões éticas no trabalho e comece, o quanto antes, a desenvolver uma postura próxima de seus pacientes, de acordo com seus princípios e também os deles.No mais, a preparação para atuar na Medicina inclui também muito estudo. Na jornada rumo à residência médica, além do conteúdo essencial para prestar as provas, você também pode trocar muitas experiências com seus professores, que já terão certa vivência para poder compartilhar e ajudar a formar uma opinião. Então, não perca tempo: venha se inscrever no Semiextensivo da Medway e se aprofundar no assunto!
Capixaba, nascido em 90. Graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e com formação em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e Administração em Saúde pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Apaixonado por aprender e ensinar. Siga no Instagram: @joaovitorsfernando