Um dos aspectos mais cruéis da jornada para a residência médica é o modo solitário por meio do qual se dá o “processo de aprovação”.
E eu falo em “processo” justamente para enfatizar que conquistar esse sonho é a consequência de um conjunto de atitudes e escolhas que transformam sua vida (quase sempre pra pior), fazendo você meio que trocar o presente por uma alegria no futuro.
Isso é, via de regra, uma fase solitária e cheia de inseguranças.
Por isso, hoje eu quero te falar algumas coisas que eu gostaria de ter ouvido enquanto estava no seu lugar, te contando um pouco da minha jornada para a residência médica, pra você ver como ela se parece com a sua.
Comecei a sonhar em cursar a residência médica na USP mais ou menos na metade da faculdade. Sabia que seria uma tarefa difícil e que exigiria que eu mudasse minha vida para que pudesse realizá-la.
Eu estudava todos os dias, de domingo a domingo – menos quando estava em alguma atividade acadêmica – e era daqueles caras que quando estava nos poucos momentos de lazer ficava meio tenso por não estar estudando.
O volume de estudo era uma coisa que me aterrorizava e foi sem dúvida uma das angústias que mais pesaram durante a minha jornada para a residência médica.
Além disso, eu tinha o péssimo hábito de ficar comparando minha estratégia de estudos com a dos meus colegas, numa profunda dúvida sobre o modelo ideal de estudo e sobre qual estratégia utilizar.
No meu último ano de faculdade, as coisas pioraram. Foi bastante difícil.
Minha mãe teve SARA grave, precisando ficar vários dias entubada na UTI com alto risco de morte. Não preciso nem dizer que simplesmente entrei em pânico.
Ia de manhã e de tarde vê-la na UTI, rezando pra não ter que colar grau semanas após o velório da pessoa que mais amo na vida. Zero estudo nesse tempo.
Felizmente ela se recuperou. Saiu da UTI e com mais algumas semanas foi de alta.
Finalmente tinha chegado outubro, mês em que me mudei pra São Paulo para começar a imersão para as provas.
Na minha cabeça eu só conseguia pensar nos quase três meses do ano durante os quais tinha ficado sem pegar num único livro, na imensa pilha de apostilas que sequer tinham sido abertas, no quão concorrido e impossível era passar nas provas e inúmeras outras coisas.
A cabeça não estava boa, mas o sonho ainda existia e nunca tinha sido tão forte.
E então começou o período de provas preparatórias para residência. Uma nova prova a cada fim de semana e uma nova rodada de revisão para as provas durante a semana.
Fiz ao todo seis provas, mas nenhuma delas foi tão aguardada e tão esperada quanto a prova da USP: o sonho pelo qual eu tinha vivido os três últimos anos e o momento que tinha tudo pra ser o mais difícil da minha jornada para a residência médica.
A prova de residência médica da USP ainda era toda discursiva de respostas curtas, com 20 casos clínicos para resolver.
Tive a brilhante ideia de começar a responder a prova num rascunho, pois tinha muito medo de rasurar e perder pontos.
Fiz a prova inteira e comecei a passar a limpo já faltando poucos minutos para o tempo limite.
O fiscal já começava a dar os avisos dos minutos finais quando ainda faltava quase metade da prova pra transcrever, até que o pior aconteceu: tive a prova recolhida faltando transcrever dois casos inteiros de cirurgia, o que equivalia a 10% da prova em branco.
Naquele momento eu tinha certeza de que o sonho estava perdido e que não havia mais o que ser feito.
Quase três anos depois dessa prova estou aqui na USP, na residência em Clínica Médica, vivendo meu sonho e te contando a minha jornada para a residência médica pra que você veja como ela parece com a sua em vários aspectos.
Não estudei o que tinha planejado.
Não li as apostilas que queria.
Sequer cheguei a fazer a prova toda!
Eu estou aqui pra te dizer que você não precisa ter feito a jornada 100% perfeita para que no final dê certo.
Já falamos isso antes, mas você não vai estudar tudo!
Você não precisa ter estudado todos os dias; não precisa ter lido todas as apostilas; não precisa ter ficado em primeiro em todos os simulados.
O que você precisa é ter percepção de que não há nada que você poderia ter feito a mais do que fez.
Que você foi a melhor versão de si mesmo todos os dias.
Sucesso não é consequência de perfeição e brilhantismo, mas de obstinação.
Sem dúvidas, o grande combustível para passar por esse ano atribulado e estressante foi a capacidade de viver do meu sonho.
De sentir o coração bater mais forte quando me imaginava sendo residente no “canto” que eu queria.
Isso me fazia ser o melhor de mim e me fez continuar tentando mesmo quando os momentos de estresse pareciam me dizer que não adiantava.
Por fim, quero deixar o recado de quem passou por essa jornada para a residência médica pela qual você está passando: vai dar certo!
Eu estive aí pensando que era muito difícil e consegui.
Eu estive aí sem saber se ia funcionar e funcionou.
E se eu consegui, você também consegue.
Tudo que hoje está no plano da realidade um dia já foi sonho!
Nós sabemos que não é tarefa fácil chegar aonde você realmente quer e que existem muitos obstáculos nesse caminho. Agradecemos ao nosso amigo Rafael Franco por abrir o jogo sobre sua jornada para a residência médica.
Apesar disso, se você ainda não se sente confiante, pode ser que esteja enfrentando algum bloqueio. Pensando nisso, produzimos um e-book, totalmente gratuito, sobre os 15 Bloqueios que te impedem de ser aprovado na residência que você quer!
Bons estudos!
27 anos, natural de Natal/RN. Médico pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Residência em Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Aspirante a Oncologista, fascinado por diagnóstico diferencial, mercado financeiro e empreendedorismo médico.