Fala pessoal, tudo bem? Hoje estamos aqui pra discutir um tema que está em alta na preventiva, a infecção pelo HTLV! É muito provável que na sua prática diária você não tenha visto muitos casos da doença – ou até mesmo nenhum -, mas entenda que isso não é por uma baixa prevalência no nosso meio, pelo contrário! A infecção pelo HTLV pode ser considerada como uma doença negligenciada, estimando-se uma prevalência de 800.000 casos de infecção no Brasil.
A importância do tema se deve ao fato de que a grande maioria das ocorrências se concentra entre a população socioeconomicamente vulnerável, o que torna a doença invisibilizada.
Mas vamos lá, o que é o HTLV? O HTLV é um retrovírus (assim como o HIV) que possui genoma diplóide de RNA. Durante a sua replicação, o HTLV utiliza a enzima transcriptase reversa para produzir DNA. Além disso, esse vírus também apresenta afinidade com os linfócitos T, que têm um importante potencial oncogênico.
Foram descritos quatro subtipos de HTLV (HTLV 1, 2, 3 e 4), sendo o principal responsável por infecções o subtipo 1, enquanto o 3 e o 4 foram descritos em alguns indivíduos na África Subsaariana.
Com a descrição das características virais, já é possível entender que se trata de uma infecção relevante. Mas por que não ouvimos falar dela na nossa prática diária? Isso se deve principalmente ao seu quadro clínico e a sua presença em populações vulneráveis.
A grande maioria das infecções agudas são assintomáticas, e além disso, muitos portadores vão manter vírus na sua forma latente por toda a sua vida! Isso, entretanto, não significa que ele esteja inativo. Na verdade, entramos em um grande problema epidemiológico – nós estamos diante de uma infecção silenciosa e assintomática, porém ativa, que em função disso mantém sua cadeia de transmissão.
Apesar de muitos portadores não apresentarem sintomas e não desenvolverem a doença ao longo da vida, a infecção pelo HTLV pode ter consequências graves quando manifestada. Em certos casos, pode haver progressão para a Leucemia/Linfoma de Células T do Adulto (ATLL) e a mielopatia ligada ao HTLV-1 (HAM). Além disso, outras condições como dermatite infecciosa, uveíte, síndrome de sicca, ceratite intersticial, síndrome de Sjögren, tireoidite de Hashimoto, miosite e artrite, embora menos severas, também estão associadas à infecção pelo HTLV-1.
Agora que nós já entendemos um pouco sobre as características clínicas da doença e sobre o seu potencial patogênico, é importante sabermos como ela é transmitida, não é mesmo?
Pra ficar fácil lembrar, você pode fazer um link com o HIV. O HTLV pode ser transmitido durante relações sexuais desprotegidas, de mãe para filho por via transplacentária, no momento do parto ou durante o aleitamento materno. Isso mesmo, a infecção pelo HTLV é uma das poucas contraindicações absolutas para o aleitamento materno. É importante se lembrar também que pode haver transmissão durante o compartilhamento de agulhas e seringas.
Os exames diagnósticos disponíveis para o HTLV incluem sorologia por ELISA e confirmação por Western blot, imunofluorescência ou reação de polimerização em cadeia quantitativa (PCR). No que diz respeito ao tratamento, até o momento não há descrição de intervenções terapêuticas específicas para o HTLV.
Ao aprender mais sobre a infecção pelo HTLV, torna-se claro porque ela foi incluída no novo programa do Ministério da Saúde, o Brasil Saudável. Este programa, lançado em fevereiro de 2024, focaliza esforços interdisciplinares para eliminar a transmissão vertical do HTLV e de outras doenças influenciadas socialmente, como hepatite B, HIV, sífilis e doença de Chagas por meio de políticas públicas.
Uma das medidas para romper a cadeia de transmissão do HTLV é a recente obrigação de os serviços de saúde, tanto públicos quanto privados de todo o Brasil, de notificar oficialmente a infecção pelo vírus Linfotrópico de Células T Humanas (HTLV) em gestantes, parturientes, puérperas e em crianças expostas ao risco de transmissão vertical (da mãe para o feto).
A inclusão do HTLV na lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de Saúde Pública foi oficializada por meio de uma portaria em 15 de fevereiro de 2024. É importante lembrar também que a periodicidade da notificação deve ser semanal.
Pessoal, muita atenção para esse tema, uma vez que a inclusão de doenças na Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças é de grande importância! As alterações na lista demonstram a importância epidemiológica do tema, principalmente no que tange à vulnerabilidade de populações expostas e à invisibilidade do assunto dentro do meio médico.
Notificar é uma importante política pública para evitar a manutenção da cadeia de transmissão da doença e fortalecer estratégias de prevenção em um âmbito individual e coletivo, ok?
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