Fala, pessoal! Hoje vamos falar sobre a vacinação da dengue no SUS. Como temos observado, a incidência global da dengue aumentou consideravelmente nas últimas duas décadas e, por isso, é importante entendermos sobre a prevenção dessa doença viral.
Em 23 de março de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou sobre a expansão geográfica dos casos de dengue para além das áreas históricas de transmissão na região das Américas; e sorotipos pouco circulantes que voltaram a chamar a atenção em algumas regiões.
O ano de 2023 teve o maior registro de casos de dengue na região das Américas. Essa situação de alta transmissão foi estendida a 2024, com um aumento de 157% em comparação com o mesmo período em 2023 e 225% em comparação com a média dos últimos 5 anos (vide gráfico abaixo).
Não é preciso dizer mais nada sobre a importância desse assunto, não é? Para a vida e também para a assistência à saúde e políticas públicas.
Este texto é para guardar no bolso, pois revisaremos sobre a doença em si, e especialmente, sobre nosso carro chefe de prevenção primária: a vacinação. Vamos juntos!
Vamos começar com uma definição de caso suspeito:
A dengue é uma arbovirose sazonal, transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti, que pode progredir para quadros graves. Não existe, até o momento, um medicamento específico para tratamento. O vírus pode contaminar uma pessoa por quatro sorotipos virais diferentes: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, cuja prevalência pode variar de acordo com a localidade e estações do ano. Guarde essa informação, pois ela será útil em breve!
ATENÇÃO! A dengue é uma doença de notificação compulsória, sendo obrigatória sua comunicação pelos profissionais de saúde às vigilâncias locais, seja de um caso suspeito ou confirmado.
O Aedes é o principal vetor do vírus no país, tratando-se de um mosquito com hábitos diurnos, antropofílico e essencialmente urbano, que se desenvolve principalmente em depósitos de água.
A principal medida de controle e prevenção da transmissão da dengue ainda é o controle vetorial! Porém, nos últimos meses, as medidas de controle ganharam reforços! A incorporação da vacina da dengue no SUS, em conjunto com as demais ações de controle e prevenção do agravo, contribuem para a redução da incidência, hospitalização e mortes pela doença no Brasil! Vamos aprofundar!
Atualmente, existem duas vacinas contra a dengue no Brasil: QDenga e Dengvaxia. Ambas são atenuadas e previnem a infecção causada pelos quatro sorotipos do vírus: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Entenderam porque era importante saber? Aí estão!
As duas vacinas utilizam a tecnologia de DNA recombinante, em que genes dos diferentes sorotipos do vírus da dengue são inseridos na estrutura genética de um vírus atenuado.
A diferença entre as vacinas está no vírus atenuado utilizado como estrutura genética de “base”: a Dengvaxia usa o vírus vacinal da febre amarela. Já a QDenga, é baseada no sorotipo 2 (DENV-2) geneticamente atenuado (TDV-2) com três vírus quiméricos contendo os genes das proteínas pré-membrana e envelope do DENV-1, DENV-3 e DENV-4 dentro da estrutura genética do TDV-2.
Aprovada em 2023, atualmente, a QDENGA é a vacina disponível no SUS, com pioneirismo! E qual a eficácia?
De acordo com dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), a Qdenga demonstrou ser eficaz contra o DENV-1 em 69,8% dos casos; contra o DENV-2 em 95,1%; e contra o DENV-3 em 48,9%. Durante o estudo, o DENV-4 não pôde ser avaliado porque havia poucos casos de dengue causados por esse sorotipo.
O esquema vacinal da QDENGA (Laboratório fornecedor: Takeda) funciona da seguinte forma: 2 doses com intervalo de 3 meses entre as doses, independentemente de ter tido ou não dengue previamente, por via subcutânea.
Após infecção pelo vírus da dengue é recomendado aguardar seis meses para o início do esquema vacinal. Caso a infecção ocorra após o início do esquema, não há alteração no intervalo entre D1 e D2, desde que a D2 não seja realizada com o período inferior a 30 dias do início da doença. Esse intervalo não prejudica a resposta imunológica para a complementação do esquema vacinal, não sendo necessário reiniciá-lo.
A vacinação deve ser adiada na presença de doença febril aguda moderada a grave, com o intuito de não atribuir à vacina as manifestações da doença. A presença de uma infecção leve, como um resfriado, não deve resultar no adiamento da vacinação.
A vacina QDenga poderá ser coadministrada com as vacinas inativadas do Calendário Nacional de Vacinação do Adolescente considerando que os estudos apontam não haver interferência na resposta imunológica. O detalhe é que, em caso de administração simultânea com outra vacina do Calendário Nacional, a vacina da dengue deve SEMPRE ser administrada em sítio anatômico diferente das demais, mantendo a via subcutânea.
Inicialmente, a vacinação vai contemplar crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, por ser a faixa etária que apresenta maior risco de agravamento e em regiões com maior incidência da doença. Mas, vale dizer, que a QDenga é recomendada para indivíduos de 4 a 60 anos de idade.
A recomendação da QDenga a quem já teve dengue é especialmente indicada por ter melhor resposta imune à vacina e por ser população de maior risco para dengue grave.
Importante! A vacina NÃO protege contra outras arboviroses, como zika, febre amarela e chikungunya.
A QDenga é contraindicada para:
Ainda não temos dados disponíveis de segurança e de imunogenicidade para realização de intercâmbio de doses entre as diferentes vacinas, não sendo, portanto, recomendada esta prática no momento.
Não existem dados, até este momento, que indiquem dose de reforço. Mas, os estudos seguem em andamento para responder essa questão. Se quiser saber mais sobre isso, o estudo TIDES iniciou uma extensão para avaliar a resposta a uma dose de reforço. Os resultados servirão de base para avaliar a necessidade e a melhor época de indicar a necessidade de reforço.
Pessoal, a Sociedade Brasileira de Pediatria sugere o uso preferencial da vacina QDenga, pelo esquema posológico mais conveniente e pela não necessidade de comprovação de infecção prévia pela dengue para sua administração!
A vacinação é uma das medidas mais importantes de prevenção de doenças infecciosas, e a dengue é uma das mais relevantes nesse contexto, devido a sua endemicidade, seu impacto na saúde pública e à sua prevalência no Brasil. A inclusão dessa nova vacina no calendário do SUS foi um grande passo, e o Brasil, mais uma vez a frente nesse sentido!
Agora que você sabe as principais informações sobre a vacinação da dengue no SUS, não deixe de ficar atento ao nosso blog. Por aqui, você encontra as principais informações sobre a residência e a área médica, além de ter acesso a várias dicas de estudos!
Ministério da Saúde (BR). Informe Técnico Operacional da Estratégia de Vacinação Contra a Dengue em 2024. Editores Gerais: Eder Fernandes Gatti, Alda Maria da Cruz, Ana Catarina de Melo Araújo, Jadher Percio, Thayssa Neiva da Fonseca Victer, Lívia Carla Vinhal Frutuoso, Rodrigo Otávio Pereira Sayago Soares. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2024.
Departamento Científico de Imunizações (Gestão 2022-2024). Documento Científico Nº 89, 11 de Agosto de 2023: Nova Vacina Dengue – Recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI); Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM); Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT). Vacinação Contra Dengue: Perguntas e Respostas Mais Frequentes (Atualizadas em 06/03/2024).
Entenda como funciona a vacina contra dengue ofertada pelo SUS. Agência Brasil, [https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202401/entenda-como-funciona-a-vacina-contra-dengue-ofertada-pelo-sus]. Acesso em: 8 de abril de 2024.
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM). Vacinas Dengue. Família SBIM, [https://familia.sbim.org.br/vacinas/vacinas-disponiveis/vacinas-dengue#:~:text=Dengvaxia%C2%AE%3A%20tr%C3%AAs%20doses%2C%20com,com%20intervalo%20de%20tr%C3%AAs%20meses.&text=Subcut%C3%A2nea.]. Acesso em: 8 de abril de 2024.
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Aumento de casos de dengue na Região das Américas. Washington, DC: OPAS/OMS, 2024.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de Doenças Transmissíveis. Dengue: Diagnóstico e Manejo Clínico: Adulto e Criança [recurso eletrônico]. 6. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2024.
Você também pode gostar