Você sabe fazer o tratamento de hepatite C? Esse assunto pode gerar certa insegurança no dia a dia, porque muitos de nós não tivemos tanto contato. Será que é infrequente ou estamos deixando passar algum caso?
Justamente por ser uma doença de evolução lenta e silenciosa, causada por um vírus (HCV), muitos casos são diagnosticados tardiamente, o que aumenta os riscos de a infecção evoluir para formas mais graves. Por isso, a ideia após ler esse texto, é que você fique conhecendo tudo que precisa para tratar a hepatite C.
A hepatite C é uma doença de evolução lenta e silenciosa, causada por um vírus (HCV) que provoca uma inflamação aguda ou crônica do fígado. O processo agudo é autolimitado, raramente causa insuficiência hepática e geralmente leva a infecção crônica (cerca de 60% a 85% dos casos).
Essa, por sua vez, segue um curso progressivo ao longo de muitos anos, e em geral não apresenta nenhum sinal e sintoma, levando a um diagnóstico tardio, o que aumenta os riscos de cirrose, carcinoma hepatocelular e a necessidade de transplante de fígado
Estima-se que, no Brasil, aproximadamente 1 milhão de pessoas tenham tido contato com o vírus da hepatite C; destas, calcula-se que 675 mil tenham o vírus circulante no sangue, sendo, por isso, elegíveis para o tratamento. A maior concentração de casos de hepatite C está entre a população acima de 40 anos de idade.
O diagnóstico da infecção pelo HCV é baseado na detecção de anticorpos para o HCV e também do RNA viral.
O anti-HCV é um marcador que indica contato prévio com o vírus. Isoladamente, não permite diferenciar uma infecção resolvida naturalmente de uma infecção ativa.
Por isso, para o diagnóstico da infecção, um resultado anti-HCV reagente precisa ser complementado com teste para detecção direta do vírus, HCV-RNA circulante no paciente. A presença do HCV-RNA pode ocorrer cerca de duas semanas após a exposição e a presença dos anticorpos anti-HCV ocorre cerca de 30 a 60 dias após.
Com o objetivo de ampliar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento recomenda-se que os grupos populacionais mencionados a seguir devam ser testados:
Pelo menos uma vez ao ano ou em intervalo menor, se clinicamente indicado: | Única vez, desde que essas pessoas não apresentem histórico de exposições associadas ao risco de aquisição de nova infecção |
Pessoas vivendo com o vírus da imunodeficiência humana (HIV);Pessoas sexualmente ativas prestes a iniciar Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV);Pessoas com múltiplos parceiros sexuais ou com múltiplas infecções sexualmente transmissíveis;Pessoas trans;Trabalhadores (as) do sexo; Pessoas em situação de rua | Idade igual ou superior a 40 anos; Pacientes ou profissionais de saúde que tenham frequentado ambientes de hemodiálise em qualquer época;Usuários de álcool e outras drogas; Com antecedente de uso de drogas injetáveis em qualquer época, incluindo aquelas que as utilizaram apenas uma vez; Pessoas privadas de liberdade; Pessoas que receberam transfusão de sangue ou hemoderivados antes de 1993 ou transplantes em qualquer época; Com antecedente ou em risco de exposição a materiais biológicos contaminados;Crianças nascidas de mães que vivem com o HCV; Familiares ou outros contatos íntimos (comunicantes), incluindo parceiros sexuais, de pessoas que vivem com ou têm antecedente de infecção pelo HCV; Pacientes com diagnóstico de diabetes, doenças cardiovasculares, antecedentes psiquiátricos, histórico de patologia hepática sem diagnóstico, elevação de ALT e/ou AST, antecedente de doença renal ou de imunodepressão, a qualquer tempo. |
Como a cura do HCV resulta em melhor sobrevida, morbidade reduzida e maior qualidade de vida na grande maioria dos pacientes, todos os pacientes com evidência virológica de infecção crônica (ou seja, nível viral detectável em um período de seis meses), devem ser considerados para tratamento, independentemente do estadiamento da fibrose hepática.
Com esta medida, o Ministério da Saúde visa eliminar a doença até 2030. No entanto, é fundamental saber se o paciente tem fibrose avançada ou cirrose, pois poderá afetar o esquema de tratamento proposto.
O estadiamento poderá ser realizado por APRI ou FIB4, biópsia hepática ou elastografia hepática. Portanto, a candidatura ao tratamento será limitada principalmente pela presença de contra indicações aos esquemas disponíveis.
Antes de falarmos sobre como é o tratamento da hepatite C, quero aproveitar para te contar que você pode saber mais sobre como lidar com a cirrose e suas complicações, de forma prática, no nosso e-book Cirrose hepática e suas complicações, que traz as principais informações que você precisa saber na hora de diagnosticar e manejar um paciente hepatopata. Clique AQUI para fazer o download gratuito!
As atuais alternativas terapêuticas para o tratamento da hepatite C, com registro no Brasil e incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), apresentam alta efetividade terapêutica.
O objetivo da terapia antiviral em pacientes com vírus da hepatite C crônica é erradicar o RNA do HCV, que é previsto pela obtenção de um nível de RNA indetectável 12 semanas após a conclusão de terapia.
A partir de 2013, a terapia oral interferon free, por meio da introdução dos Antivirais de Ação Direta (DAAs), drogas que interrompem a replicação viral e a infecção, revolucionou a terapia porque são altamente eficazes e bem tolerados.
A seleção do regime varia de acordo com o genótipo e outros fatores do paciente, como a presença de cirrose e histórico de tratamento. O genótipo 1 é prevalente no mundo, sendo responsável por 46% de todas as infecções pelo HCV, seguido pelo genótipo 3 (30%). O mesmo se observa no Brasil, com pequenas variações na proporção de prevalência desses genótipos. O genótipo 2 é frequente na região Centro-Oeste (11% dos casos), enquanto o genótipo 3 é mais comumente detectado na região Sul (43%).
Os tratamentos na maioria das vezes são de 12 semanas e, em alguns casos, de 24 semanas. Atualmente, existe tratamento de 8 semanas para não cirróticos, genótipo 1, com sofosbuvir/ledipasvir. Em pacientes que tenham maior risco de falha ao tratamento (cirróticos, genótipos 3 e 4, falha no tratamento com inibidores de protease iniciais), a ribavirina é uma opção na associação aos novos antivirais de ação direta, com uma atenção especial pelo seu risco de anemia hemolítica.
Infelizmente não há imunoprofilaxia de hepatite C nem forma de prevenir a transmissão vertical!
A resposta virológica ao tratamento deve ser avaliada verificando a carga viral 12 semanas após a interrupção da terapia. A resposta virológica sustentada (RVS) é definida por um nível viral indetectável. Uma proporção muito pequena de pacientes experimenta recidiva virológica entre as semanas 12 e 24, e alguns desses casos podem ser reinfecção em vez de recidiva verdadeira. Assim, alguns médicos também verificam a carga viral em 24 semanas para garantir a manutenção da RVS.
Embora a RVS reflita a cura efetiva da infecção pelo vírus da hepatite C (HCV), ela não confere imunidade ao HCV e os pacientes devem ser informados de que estão sob risco de reinfecção com exposição futura.
Os pacientes que atingem uma RVS e não têm fibrose ou cirrose não requerem nenhum acompanhamento específico para sua infecção por HCV, embora alguns verifiquem uma carga viral de HCV um ano após a conclusão do tratamento para confirmar que a carga viral permanece indetectável.
Os pacientes que não conseguem atingir uma RVS devem continuar a ser acompanhados quanto a sinais de progressão da doença hepática e avaliados para retratamento da infecção por HCV.
Encerramos toda discussão sobre tratamento de Hepatite C. Agora que já tá mais informado, que tal dar uma conferida na Academia Medway? Por lá disponibilizamos diversos e-books e minicursos completamente gratuitos! Por exemplo, o nosso e-book ECG Sem Mistérios ou o nosso minicurso Semana da Emergência são ótimas opções pra você estar preparado para qualquer plantão no país.
E, antes de você ir, se você quiser aprender muito mais sobre diversos outros temas, o PSMedway, nosso curso de Medicina de Emergência, irá te preparar para a atuação médica dentro da Sala de Emergência!
*Colaborou: Juliana Dantas
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.