E aí, moçada! Hoje, escolhemos um tema que aterroriza qualquer médico em porta de pronto socorro: a sedoanalgesia pediátrica. Assim como o adulto, a criança também sente dor e grande parte dos procedimentos, sejam eles invasivos ou não, requer sedação.
O nosso bate papo vai desmistificar essa ideia de que meia ampola, ou um terço de ampola de analgésico ou sedativo é o suficiente para aquele tamanho de criança.
Vamos conhecer um pouco sobre os medicamentos mais usados, seus mecanismos de ação (breve!), suas indicações, efeitos colaterais e uma tabela marota de doses para vocês levarem para o resto da vida de vocês!
Pronto para entender melhor a sedoanalgesia pediátrica? Então bora lá!
Existe ainda a absurda ideia de que as crianças são resistentes à dor, não se recordam das situações que lhe causaram esta sensação e, por conta disso, muita gente deixa de prescrever uma sedoanalgesia pediátrica adequada para os nossos piticos.
As conexões nervosas para transmissão e percepção da dor estão em funcionamento na 24ª semana intra-útero, apresentando completa mielinização a partir da 30ª semana. As terminações nervosas cutâneas no RN são iguais ou superiores à dos adultos!
As crianças e os adolescentes precisam frequentemente da sedoanalgesia pediátrica quando atendidos na emergência.
Procedimentos invasivos e não invasivos fazem parte do nosso arsenal diagnóstico e são desconfortáveis para eles (e para nós também!). O manejo destas medicações deixou de ser da alçada do anestesiologista, logo, precisamos conhecê-las muito bem.
Entretanto, antes de entrarmos no mundo destes medicamentos, para entendermos melhor os conceitos que vão ser apresentados, vamos relembrar algumas definições:
A avaliação da dor é direta, usada para pacientes alertas o suficiente para relatar a intensidade da dor. Lembrem-se que estamos na pediatria! Portanto, essa identificação pode ser por meio da fala, gestos, movimentos de cabeça ou o relato da própria mãe.
Para os menores de 2 anos a avaliação fica difícil, sendo muito subjetivo para o médico identificar o real estado de dor. A dor é avaliada por meio de medidas de variação de Frequência Cardíaca e Pressão Arterial, além da qualidade do choro e movimentos corporais.
As crianças entre 3-7 anos de idade já conseguem fornecer algumas informações confiáveis. Para este grupo, usamos como instrumento de avaliação a Escala Visual Analógica (EVA).
A escala de Comfort costuma ser utilizada em UTIp (não é tão eficiente em emergência) para avaliar dor e sedação, usando parâmetros fisiológicos (PA e FC) e comportamentais.
São 8 parâmetros, cada um pontuando de 1 a 5, totalizando o mínimo de 8 e o máximo de 40. O ponto de corte adequado para uma boa sedação é entre 17-26 pontos.
Antes de respondermos a pergunta, temos uma dica de ouro pra te dar: se você quer dominar a base da analgesia e sedação e se sentir seguro para prescrever um plano de analgesia otimizado e individualizado, sugiro fazer o nosso Curso de Analgesia e Sedação: do PS à UTI.
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Agora, voltando ao assunto, antes das medidas farmacológicas, precisamos considerar sempre as medidas não farmacológicas no controle e alívio da dor, como o controle do ambiente, usar objetos para acalmar as crianças, explicar o procedimento, reforço positivo e a presença dos pais.
Quando considerarmos as medidas farmacológicas, vamos levar em conta comorbidades, interação medicamentosa, procedimento e estado neurológico e hemodinâmico do paciente.
Fármaco | Dose | Intervalo | Máximo | Macete em PSI |
Paracetamol | 10-15 mg/kg | 4/4h | 100 mg/kg | VO gotas – 200 mg/ml: 1 gota/kg |
Ibuprofeno | 5-10 mg/kg | 6/6h | 40 mg/kg | VO gotas 100 mg/ml: 1 gota/kg (dose anti-inflamatória) |
Dipirona | 15 mg/kg | 6/6h | 500 mg/kg | VO gotas – 500 mg/ml: 1 gota/kgVO xarope – 50mg/ml: 0,3 ml/kgEV – 500mg/ml: 0,03 ml/kg |
Fármaco | Dose | Intervalo | Máximo | Macete em PSI |
Tramadol | 1-2 mg/kg | 6/6 ou 8/8h | 500mg/dia | EV – 100 mg/ml: 0,01-0,02ml/kgEV – 50 mg/ml: 0,02-0,04 ml/kg |
Morfina | 0,05-0,2 mg/kg | Pode ser de 2/2 ou 4/4h | 15mg/dose | EV, VO, IM, SC e VREV/SC – 10 mg/ml -> diluir 1 ampola em 9 ml de AD para ter uma solução com 1 mg/ml. A dose será 0,05-0,2ml/kg |
Fentanil | 1 mcg/kg | Pode ser de 1/1h ou repetida a cada 5 min | 100 mcg/kg | EV – 50 mcg/ml: 0,02 ml/kg |
A sedação para procedimentos deve levar a um estado de queda do nível de consciência que permita com que o paciente mantenha pervidade de via aérea de forma independente. Precisaremos estabelecer um plano terapêutico baseado em: Avaliação Pré-Sedação – ASA, SAMPLE, Tempo de jejum, considerar doenças genéticas associadas à via aérea difícil, monitorização, arsenal terapêutico, tipo de procedimento e condições de alta.
Tipo Procedimento | Indicação | O que preciso? | Medicação sugerida |
Não invasivo | TC/Eco/EEG/USG | Controle motor | Conforto Midazolam (exceto se EEG) |
Dor leve e Alto grau de ansiedade | Troca de TQT ou GTT/Nasofibro/Punção venosa/ Punção lombar/Sutura/ Artrocentese/Aspiração de MO | Analgesia e sedação Redução ansiedade Controle motor | Conforto Midazolam Cetamina Analgesia tópica ou local |
Alto nível de dor e/ou alto grau de ansiedade | Desbridamento de queimadura/ Redução de fratura/ Redução de hérnia/ Redução de parafimose/ Toracocentese/ Drenagem de tórax/ Paracentese/ Exame físico em vitimas de violência sexual | Analgesia e sedação Redução ansiedade Controle motor Amnésia | Fentanil + MidazolamCetamina + Propofol Morfina Cetamina Fentanil |
Fármaco | Dose | Intervalo | Máximo |
Midazolam | EV (6m-5a): 0,05-0,1 mg/kgEV (6a-12a): 0,025-0,05 mg/kgIM: 0,1-0,15 mg/kgIN: 0,2-0,5 mg/kgVO: 0,5-0,75 mg/kgVR : 0,25-0,5 mg/kg | Início de ação de 2-3 min se for EV; e pode variar de 10-30 min nas outras vias. | EV máximo de 0,4-0,6 mg/kg |
Cetamina | EV: 1-2 mg/kg e pode repetir de 0,5-1 mg/kgIM: 2-4 mg/kg | A cada 5-10 min | |
Etomidato | EV: 0,2-0,3 mg/kg | ||
Flumazenil | EV: 0,02 mg/kg | 1/1 min | 1 mg |
Naloxone | EV/IM: 0,1 mg/kg | 2/2 min se EV; 10/10 min se IM | 2 mg |
Galera, deu pra sacar que sedoanalgesia pediátrica é possível? E que é preciso um protocolo para que tudo saia redondo? Guardaram as tabelas com as doses para enfrentarem os plantões mundo afora?
Agora que vocês sabem um pouco mais sobre a sedoanalgesia pediátrica, dê uma conferida em mais conteúdos de Medicina de Emergência na Academia Medway (temos diversos e-books e minicursos completamente gratuitos), relembre os conceitos de intubação e ventilação não invasiva, assim como a sequência rápida de intubação (nos links acima) e garanta aquele ponto definitivo para a aprovação na prova de residência e para salvar a vida do seu paciente!
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É isso aí, galera. Fixem os principais conceitos e vamos com tudo!
Nascido em 1993 na cidade de São Paulo, médico formado pela Universidade São Francisco, em Bragança Paulista, 2018. Residência médica em Pediatria pela Faculdade de Ciências Médicas UNICAMP. Apaixonado por ensinar e descomplicar o complicado. “O conhecimento lhe dará a oportunidade de fazer a diferença.
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