Você sabe reconhecer os sinais de alerta que podem indicar uma doença grave do sistema nervoso central? Os sinais meníngeos, embora nem sempre fáceis de identificar, são fundamentais para um diagnóstico precoce e uma intervenção eficaz.
Eles são alterações semiológicas com significado clínico importantíssimo, que se relacionam com doenças graves do sistema nervoso central. Dentre os sinais mais importantes, destacam-se a rigidez de nuca, os sinais de Brudzinski e de Kernig, e outro menos conhecido, mas tão importante quanto, que é o sinal de Bikele.
Neste texto, vamos explorar os principais sinais meníngeos e entender por que eles são tão importantes. Continue a leitura para garantir que você não vai deixar passar nenhum detalhe essencial!
Compreender a anatomia das meninges é fundamental para entender por que os sinais meníngeos surgem em determinadas condições clínicas. Essas estruturas, ao serem afetadas por inflamação ou irritação, manifestam-se através de sinais físicos específicos, que são cruciais para o diagnóstico.
As meninges são membranas que envolvem o sistema nervoso central, incluindo o cérebro e a medula espinhal, proporcionando proteção e sustentação. Elas são compostas por três camadas distintas: dura-máter, aracnóide e pia-máter.
A dura-máter, camada mais externa e espessa, é responsável pela proteção mecânica do SNC e pela fixação das estruturas intracranianas.
A aracnóide, camada intermediária, possui uma configuração mais delicada e é separada da pia-máter pela cavidade subaracnóidea, que contém o líquor.
A pia-máter, camada mais interna e aderente ao SNC, acompanha a superfície do cérebro e da medula, permeando as fissuras e sulcos cerebrais.
Um quadro de inflamação das meninges, especialmente da pia-máter e da aracnóide, gera sinais clínicos característicos, que podem estar presente em diversas situações, incluindo processos infecciosos, hemorragias subaracnóideas, distúrbios metabólicos, ou até mesmo quadros de hipertensão intracraniana.
Nesse ponto é importante diferenciar “meningismo” de “meningite”. Por mais que o termo “meningite” pareça se referir a qualquer inflamação das meninges, na verdade se relaciona apenas à inflamação causada por infecções, seja por bactérias, vírus ou fungos.
Já o termo “meningismo” é mais amplo, e refere-se tanto a causas infecciosas, quanto a hemorragia subaracnóidea, doenças inflamatórias, substâncias tóxicas irritativas, entre outros — e os sinais meníngeos podem aparecer em qualquer uma dessas situações.
A rigidez de nuca nada mais é do que a rigidez da musculatura cervical, predominantemente da musculatura extensora, com resistência à flexão passiva do examinador, e costuma estar presente em cerca de 70% dos pacientes com irritação meníngea.
Pode apresentar-se em diferentes níveis de gravidade, sendo o mais importante deles caracterizado pela posição de opistótono, em que o paciente encontra-se em hiperextensão cervical e de toda a musculatura axial.
O sinal de Brudzinski é um dos sinais clínicos mais clássicos para avaliação de irritação meníngea. Esse sinal é considerado positivo quando, ao realizar a flexão passiva do pescoço do paciente, há flexão involuntária dos joelhos e quadril devido a espasmo muscular dos membros inferiores.
É importante observar que esse sinal pode não ser confiável em crianças muito pequenas ou em pacientes com condições musculoesqueléticas que dificultam a flexão passiva do pescoço.
O sinal de Kernig é outro sinal meníngeo importante que deve ser avaliado durante o exame físico.
Para testá-lo, o paciente é colocado em decúbito dorsal, e o médico flexiona a coxa do paciente a um ângulo de 90 graus em relação ao tronco. Em seguida, tenta-se estender a perna na articulação do joelho. Se houver dor intensa e resistência à extensão, o sinal é considerado positivo.
A dor e a resistência durante o teste de extensão do joelho indicam irritação das meninges, especificamente nas raízes nervosas que emergem da medula espinhal.
O sinal de Kernig é frequentemente observado em pacientes com meningite bacteriana e pode ser útil na diferenciação entre meningite e outras condições com sintomatologia semelhante, como encefalite ou condições musculoesqueléticas.
No sinal de Bikele há resistência à extensão passiva do cotovelo quando paciente encontra-se em decúbito dorsal, com o cotovelo fletido e o ombro abduzido, elevado e rodado externamente. Essa manobra também é útil para avaliar radiculopatias cervicais.
A semiologia é importantíssima para o diagnóstico de doenças que afetam o sistema nervoso central.
Ambos os sinais de Kernig e Brudzinski apresentam sensibilidade de 5% e especificidade de 95%. Já a rigidez de nuca, apresenta sensibilidade de 30% e especificidade de 68%.
Isso significa que a ausência desses sinais não descarta irritação meníngea, no entanto, a presença de quaisquer um desses, combinados ou não, são fortes indicadores de doença, devendo-se progredir com a investigação da causa, seja com exames de imagem e/ou análise de líquido cefalorraquidiano.
O conhecimento sobre os sinais meníngeos é fundamental para o reconhecimento precoce de condições graves que afetam o sistema nervoso central. Identificar esses sinais é essencial para uma avaliação clínica mais precisa e um manejo mais adequado do paciente.
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Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Residência Médica em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP).