Fala, moçada! Senta aí que hoje vamos falar da síncope cardíaca, um tema importantíssimo para sua vida! Sabe por quê? Porque a síncope é uma daquelas queixas que aparecem em todo plantão e, meu amigo, é primordial que você saiba os diagnósticos diferenciais e como manejar esses pacientes no pronto atendimento, ok? Então, respira fundo e vem comigo.
Uma síncope é definida como uma perda transitória da consciência, caracterizada como sendo de curta duração com recuperação completa e espontânea, secundária a hipoperfusão cerebral devido a redução da pressão arterial sistêmica.
As síncopes são reunidas em três grandes grupos: as síndromes reflexas (a grande representante aqui é a vasovagal — vale demais dar uma olhadinha no nosso artigo sobre esse grupo, que representa 70% das causas de síncope), hipotensão ortostática e o nosso assunto de hoje, as síncopes cardíacas.
Para facilitar o raciocínio, vamos pensar na fisiopatologia definidora da síncope: hipoperfusão cerebral devido a queda da pressão arterial sistêmica (PAS). Nós sabemos que:
Pressão arterial sistêmica (PAS) = Débito cardíaco (DC) x Resistência vascular periférica (RVP)
Assim, na síncope cardíaca, vamos nos concentrar nas alterações cardiopulmonares que levam a redução do débito cardíaco. Logo, quando pensamos em síncope cardíaca, temos que pensar em dois grupos:
Vamos adentrar um pouquinho nesses grupos:
As bradiarritmias secundárias a disfunção do nó sinoatrial ou as doenças do sistema de condução atrioventricular podem levar a incapacidade de manutenção do débito cardíaco. Os bloqueios atrioventriculares de alto grau (Bloqueio atrioventricular total (3º grau) e bloqueio atrioventricular de 2º grau – Mobitz tipo II) são a principal causa da síncope cardíaca por arritmia, seguida pelas pausas cardíacas que são geralmente secundárias a doença do nó sinoatrial ou acontecem após a resolução espontânea de um episódio de taquiarritmia atrial (flutter ou fibrilação atrial).
A síncope cardíaca pode acontecer nas taquiarritmias, em que a redução do débito cardíaco — devido a redução do tempo de enchimento ventricular — não é compensada pelo aumento da contração ventricular. Isso acontece geralmente nos pacientes que tem alguma cardiopatia estrutural, principalmente naqueles com doença coronariana, mas também nas cardiomiopatias dilatadas e hipertróficas. Um bom exemplo seria a taquicardia ventricular que pode se apresentar como síncope em pacientes com doença cardíaca prévia.
Para melhorar o raciocínio: vamos pensar em um paciente coronariopata, que faz uso de drogas hipotensoras — como Inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) ou bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA). Na vigência de uma arritmia com mudança abrupta da frequência cardíaca e por consequente da pressão arterial, ele tem pelo menos dois motivos para apresentar um quadro de síncope cardíaca: incapacidade estrutural de uma resposta ventricular compensatória e uma resposta vasopressora compensatória inadequada devido as medicações. Entendeu? Guarde muito bem esse raciocínio, porque história de doença cardíaca prévia e uso de medicações precisam fazer parte da sua anamnese no atendimento a pacientes com queixa de síncope.
Da mesma forma que nas arritmias, as doenças estruturais também levam a síncope devido ao débito cardíaco inadequado. Nesse grupo temos as doenças valvares, a cardiomiopatia hipertrófica, o mixoma atrial, a embolia pulmonar e hipertensão pulmonar, o tamponamento cardíaco, a síndrome coronariana e por fim a dissecção aórtica aguda. Dentre essas causas, duas se destacam:
A estenose aórtica: pacientes com valva aórtica criticamente estenótica, normalmente apresentam síncope associada ao exercício. Isso geralmente ocorre devido a incapacidade, gerada pela obstrução, em aumentar o débito cardíaco de forma compensatória a vasodilatação periférica induzida pelo exercício, resultando em redução da pressão arterial sistêmica e hipoperfusão cerebral levando a síncope.
A cardiomiopatia hipertrófica (CMH) é uma importantíssima causa de síncope! Quase 25% dos pacientes com CMH vão apresentar pelo menos um episódio de síncope. São muitos os mecanismos que levam a síncope nesses pacientes, um deles nós já discutimos: anormalidades e bloqueios de condução atrioventricular e arritmias (principalmente a fibrilação atrial e taquicardia ventricular). Outros como isquemia miocárdica durante esforço, obstrução subaórtica também contribuem para a apresentação de síncope nesses pacientes.
Obs.: As canalopatias como a síndrome do QT longo e síndrome de Brugada, não são bem alterações estruturais, mas também são causas raras de síncope de origem cardíaca.
Ufa, deu pra entender o raciocínio etiofisiopatológico da coisa? Então da uma respirada que agora vamos atender seu paciente! Imagine que você está de plantão no pronto atendimento: se a queixa é perda transitória da consciência, que durou por volta de 1 minuto com resolução espontânea sem intervenção, o diagnóstico sindrômico é síncope. Ok? Ok.
Agora, vamos voltar lá e lembrar dos três grandes grupos: síndromes reflexas, hipotensão ortostática e síncope cardíaca.
Agora, respondendo a cada uma:
Nos guiando por essas perguntas, quando pensamos em síncope cardíaca:
Durante o esforço ou quando em decúbito dorsal |
Palpitações de início súbito imediatamente seguida de síncope |
História familiar de morte súbita inexplicável |
Presença de doença cardíaca estrutural ou coronariana |
Então, nós identificamos a síncope e com base no exame clínico e no eletrocardiograma nós classificamos como síncope cardíaca.
Toda síncope cardíaca é estratificada como alto risco devido ao risco de morte súbita. Sendo assim, esse é um paciente que fica sob observação hospitalar, monitorizado sobretudo se houver uma arritmia como desencadeador. É necessário avaliar clinicamente a estabilidade ou instabilidade do paciente para indicar terapêutica específica. Se o paciente tem alguma cardiopatia estrutural, o ecocardiograma está indicado durante a internação. A terapêutica especifica vai depender da patologia cardíaca identificada.
Pode até parecer muita coisa, mas se liga: o paciente chegou com a historinha de perda de consciência rápida, menos de um minuto, sem sintomas prodrômicos ou falando de uma palpitação imediatamente antes. Aí ele te conta que já infartou ou tem doença de chagas ou qualquer outra doença cardíaca prévia. Meu amigo, monitora esse paciente, vê se ele tem algum critério de instabilidade clínica, faz um eletrocardiograma de 12 derivações, faz uma boa propedêutica cardiovascular, identifica a causa cardíaca da síncope e indica a terapêutica específica! E é isso!
Não esquece: síncope é muito comum no pronto atendimento, 70% delas é síndrome vasovagal, então não pastela e vai ler nosso artigo sobre o tema — mas se o paciente tem história de cardiopatia prévia, meu irmão, 95% de chance de você estar diante de uma síncope cardíaca. Fechou?
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Pra cima!
*Colaborou Amanda Rodrigues Vale, aluna de Medicina da UFSCar
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
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