Fala, pessoal! O assunto de hoje é síncope vasovagal. Vamos começar com um caso imaginário? Então você está de plantão, e chega uma paciente de 32 anos, previamente hígida, relatando que a pouco tempo começou a suar frio, sentir a vista embaçar e então perdeu a consciência por menos de dois minutos, sendo socorrida por colegas.
Você, uma fera do pronto atendimento, pergunta o que ela estava fazendo no momento do episódio, e ela te relata que estava em pé, no sol, há mais ou menos 2 horas em uma fila para comprar ingressos para um show. E ela te dá mais uma informação importantíssima: que ela não queria perder o lugar da fila para ir até o hospital, porque, na realidade, ela tem isso sempre e que agora só está se sentindo “meio mole”.
E aí meu amigo, por essa historinha, você consegue pensar no possível diagnóstico? E nos diferenciais? Sabe identificar algum sinal de alarme? Não? Então vem com a gente que esse assunto é muito importante. A Síncope é uma queixa comum nas emergências e a síncope vasovagal é a causa mais comum de síncope, correspondendo a mais de 70% dos casos!
Já entendeu que a síncope vasovagal é importante, né? Então, vamos por partes. No nosso caso acima, primeiro você precisa identificar que o “episódio” da paciente se tratava de uma síncope.
A síncope é definida como uma perda da consciência e do tônus postural transitória com recuperação rápida e espontânea sem intervenção médica. E por que ela ocorre? Por uma interrupção transitória do fornecimento de oxigênio e nutrientes para ambos os hemisférios cerebrais causada por vasoconstrição ou por uma queda abrupta da pressão arterial sistêmica.
A síncope vasovagal é a consequência de gatilhos que levam a estimulação vagal e redução da estimulação simpática resultando em bradicardia, vasodilatação e então queda abrupta da pressão arterial sistêmica que leva a hipoperfusão e por fim perda de consciência e tônus postural.
Beleza, então já sabemos o que é e como funciona a síncope vasovagal, agora vamos entender como é o quadro clínico e porque pensamos nesse diagnóstico no nosso caso ali em cima.
Gatilhos | |
Estresse emocional | |
Ficar em pé por um período prolongado | |
Exposição ao calor | |
Medo | |
Estímulos dolorosos | |
Esforço físico |
Sempre lembrando que mulheres jovens (principalmente menores que 40 anos) são mais propensas a terem essa apresentação típica, ou seja, desencadeada por um desses gatilhos. Homens e idosos podem não ter esse quadro típico.
Sintomas prodrômicos | |
Tontura | |
Sensação de calor ou frio | |
Sudorese | |
Palpitações | |
Náusea ou desconforto abdominal | |
Turvação visual – escurecimento temporário da visão | |
Diminuição da audição ou sensação de “zumbido” no ouvido |
E por fim, há perda da consciência de curta duração (1 a 2 minutos) seguidas do aparecimento de um mal-estar, uma fadiga que pode durar algumas horas após o episódio.
Viu como o nosso caso encaixa direitinho? Mas e aí, como você vai conduzir esse caso na emergência?
Primeiro temos que ter em mente duas coisas:
Pensando nisso, vamos sistematizar o atendimento do nosso paciente:
Número, frequência e duração dos episódios |
Sintomas prodrômicos |
Posição do paciente no momento da síncope |
Gatilhos |
Sintomas após a síncope |
Condições médicas preexistentes e história familiar |
Presença de doença cardíaca estrutural |
História familiar de morte súbita inexplicada |
Síncope sem pródromo ou durante o esforço ou deitado |
Idade > 65 anos |
Palpitação súbita seguida de síncope |
Ritmo não sinusal |
Anormalidades de condução intraventricluar (duração do QRS ≥0,12 s) |
Bloqueio AV de segundo grau Mobitz I e Bloqueio AV total |
Bradicardia sinusal assintomática (<50 bpm), bloqueio sinoatrial ou pausa sinusal ≥3 s na ausência de medicamentos cronotrópicos negativos |
Taquicardia ventricular não sustentada |
Complexos QRS pré-excitados |
Intervalos QT longos ou curtos |
Repolarização precoce |
Padrão de bloqueio de ramo direito com supradesnivelamento de ST nas derivações V1-V3 (síndrome de Brugada) |
Ondas Q sugerindo infarto do miocárdio |
Bom, como o diagnóstico da Síncope vasovagal é clínico, se você conseguiu identificar na história clínica características típicas, associado a um exame físico sem alterações neurológicas e cardiovasculares, em um paciente que não tem fatores de risco para causas cardíacas de síncope, então meu amigo, é isso. Sua conduta agora na emergência deve ser tranquilizar a paciente da benignidade do quadro, explicar:
E aí, se a nossa paciente chegasse agora no seu plantão, você já saberia como conduzir? Sempre se lembre da história típica: mulher, jovem, saudável, os gatilhos, os sintomas prodrômicos. Pense: meu paciente pode ter uma síncope de causa cardíaca? Fazer uma boa propedêutica cardiovascular e neurológica e não esquecer do ECG.
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*Colaborou: Amanda Rodrigues Vale, aluna da faculdade UFSCar.
Nascido em 1993, em Maringá, se formou em Medicina pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). Residência em Medicina de Emergência pelo Hospital Israelita Albert Einstein.