Pessoal, hoje vamos falar sobre a síndrome anticolinérgica. A medicação anticolinérgica é comumente usada em todas as áreas da prática clínica, devido à grande quantidade de medicamentos com essa propriedade. Muitos deles estão disponíveis como medicamentos de venda livre, de modo a facilitar ainda mais as causas de intoxicação.
A síndrome anticolinérgica é causada por uma intoxicação exógena ao uso de fármacos dessa classe e caracteriza-se por midríase, coordenação motora, náuseas, vômitos, alucinações, calafrios, febre, boca seca e pele, taquicardia, fotofobia, retenção urinária, íleo paralítico, delírio, confusão e coma.
Por se tratar de uma condição frequentemente encontrada no departamento de emergência, hoje abordaremos aqui como reconhecer e manejar a síndrome anticolinérgica.
Os medicamentos anticolinérgicos são antagonistas não seletivos dos receptores muscarínicos (M) e atuam inibindo competitivamente a ligação do neurotransmissor acetilcolina aos receptores muscarínicos de acetilcolina.
Os receptores muscarínicos são encontrados:
Medicamentos anticolinérgicos podem ser usados para diversas situações, como úlcera péptica, cólon irritável, incontinência urinária, depressão ou sedação.
Existe um considerável número de fármacos com atividade anticolinérgica, existindo considerável variação na potência.
Exemplos de classes de medicamentos com propriedades anticolinérgicas incluem: anti-histamínicos, antidepressivos, antiespasmódicos urinários e gastrointestinais, antipsicóticos, relaxantes musculares, antiepiléticos, medicamentos para Parkinson, medicamentos inalados (ipratrópio, por exemplo), medicamento oftálmicos (atropina, por exemplo).
Os sinais clássicos de intoxicação anticolinérgica são resumidos no seguinte mnemônico:
Efeitos no sistema nervoso central estão relacionados a uma toxicidade ainda mais grave. Dentre os efeitos, destacam-se: ansiedade, agitação, disartria, confusão, desorientação, alucinações visuais, comportamento bizarro, delírio, psicose, coma e convulsões.
O diagnóstico de síndrome anticolinérgica é baseado em achados clínicos.
Os exames inicialmente indicados são:
Além disso, creatina quinase sérica e teste de função renal são apropriados em pacientes com suspeita de rabdomiólise.
Um ponto a ser destacado é que nenhum achado laboratorial diagnóstico pode determinar definitivamente a toxicidade anticolinérgica, apenas o teste de fisostigmina ajudará a estabelecer ou descartar o diagnóstico de toxicidade anticolinérgica.
Na intoxicação exógena por anticolinérgicos, é importante se atentar a alguns pontos em especial, sendo eles:
Inicialmente é necessário proteger as vias aéreas, respiração e circulação do paciente, feito isso, trate a agitação e as convulsões com benzodiazepínicos.
Os pacientes que manifestarem toxicidade anticolinérgica periférica e moderada central sem contraindicações à fisostigmina devem ser tratados com esta medicação: dose: 0,5 a 2 mg, via injeção intravenosa lenta, geralmente durante cinco minutos.
Por fim, se o estado mental do paciente estiver intacto e for provável a ingestão de um agente anticolinérgicos, é preciso administrar carvão ativado (1 g/kg; máximo 50 g) para pacientes com estado mental intacto ou via aérea segura.
Esperamos ter esclarecido as dúvidas em torno da síndrome anticolinérgica e qual é o manejo correto dessa condição. Aqui, no nosso blog, disponibilizamos uma série de conteúdos sobre Medicina de Emergência e residência médica para contribuir com sua preparação.
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Robinson D, Araklitis G. Terapia anticolinérgica: Uma abordagem baseada em casos. Caso Rep Saúde da Mulher . 2019;25:e00164. Publicado em 19 de novembro de 2019. doi:10.1016/j.crwh.2019.e00164
Carrillo-Esper R, Ramírez-Rosillo FJ, Garnica-Escamilla MA, et al. Síndrome anticolinérgico. Med Sur. 2012;19 (4):244-249.
Su, M K. Anticholinergic poisoning. UpToDate. 2022. Disponível em: < http://www.uptodate.com/online>. Acesso em: 23/02/2022
Formação em Medicina na Universidade Nove de Julho pelo FIES. Pesquisa no Instituto do Coração de São Paulo da Faculdade de Medicina da USP.