Síndrome de Guillain-Barré: tudo que você precisa saber

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Fala, galera! Hoje vamos abordar mais um tema do pronto-socorro que, apesar de não muito frequente, ainda é de importante compreensão: a síndrome de Guillain-Barré. Por ser bastante rara, é bem provável que você não saiba diagnosticá-la, tratá-la ou talvez até mesmo defini-la. Mas relaxa: hoje, vamos te explicar tudo que você precisa saber sobre ela.

Bora lá?

Pra começar: o que é a síndrome de Guillain-Barré?

A síndrome de Guillain-Barré é um epônimo que engloba uma grande variedade de polineuropatias imunomediadas agudas, comumente monofásicas e desencadeadas por uma infecção prévia. Elas podem atacar tanto a bainha de mielina (formas desmielinizantes) como o próprio axônio (formas axonais).

Imagem mostrando como a síndrome de Guillain-Barré afeta o corpo
Representação da lesão da bainha de mielina de um nervo periférico na SGB (Fonte: Mayo Clinic)

Sintomas

Os sintomas cardinais da síndrome de Guillain-Barré são: fraqueza e abolição de reflexos osteotendíneos com evolução aguda (ao longo de alguns dias). A fraqueza geralmente começa em membros inferiores e evoluem para membros superiores → por isso a SGB tem evolução cunhada como ascendente. A grande preocupação é que a fraqueza pode acometer a musculatura respiratória e, por isso, alguns pacientes podem precisar de suporte ventilatório invasivo. Além disso, a musculatura bulbar e a facial são acometidas em mais da metade dos pacientes.

Outros sintomas associados à fraqueza da síndrome de Guillain-Barré são:

  • Parestesias de extremidades 
  • Dor lombar → pode preceder o início dos outros sintomas, e está presente em mais de 80% dos pacientes
  • Disautonomia → presente na maior parte dos pacientes. É importante reconhecê-la o quanto antes, já que pode ser grave e levar ao óbito

Vale lembrar que a evolução da Guillain-Barré é AGUDA! Mas o que isso significa? Isso quer dizer que os pacientes podem piorar em até 4 semanas do início do quadro. Porém, a maior parte dos pacientes pioram em até duas semanas. E aí? O quadro clínico descrito te lembrou uma síndrome de Guillain-Barré?! É claro, pessoal!

A forma clássica da síndrome de Guillain-Barré é a polirradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória aguda (do inglês, AIDP), responsável por 85 a 90% dos casos de síndrome de Guillain-Barré. As outras variantes de síndrome de Guillain-Barré são responsáveis pela minoria dos casos.

Sempre busque pela história de infecção nas últimas semanas (seja de vias aéreas ou do trato gastrointestinal) – é um dado muito importante e que reforça a possibilidade do diagnóstico de Guillain-Barré. Se houver história de infecção do trato gastrointestinal nas últimas semanas, lembre-se do principal agente associado: Campylobacter jejuni, associado especialmente à forma axonal da síndrome (chamada Neuropatia Axonal Motora Aguda, que tem a sigla AMAN, em inglês). Outras infecções possivelmente desencadeantes de síndrome de Guillain-Barré são: HIV, citomegalovírus, Epstein-Barr, zika, entre outros.

Alguns exames complementares podem ajudar no diagnóstico:

  • Líquor → até ⅔ dos pacientes apresentam dissociação albumino-citológica – você sabe o que é isso? Como o próprio nome diz, há uma diferença entre a concentração de proteínas (especialmente representada pela albumina) e a concentração de células no líquor. A dissociação albumino-citológica no líquor é definida pela contagem de células normal (ou seja, <5 células/mm3) e proteína total aumentada.
    Obs: porém, uma minoria dos pacientes pode apresentar aumento discreto de celularidade (chamada pleocitose), em que há pleocitose de predomínio linfomonocitário de, no máximo, 50 células/mm3 – ainda assim isso deve ser considerado uma dissociação albumino-citológica. Se pleocitose >50 células/mm3, investigue diagnósticos diferenciais (especialmente infecção por HIV). Além disso, uma informação importantíssima de saber é quando esperar pela dissociação albumino-citológica: cerca de ⅔ dos pacientes têm na 1a semana do quadro, e >75% após a 3a semana (ou seja, a sua ausência não descarta o diagnóstico de síndrome de Guillain-Barré!).
    Por fim, na síndrome de Guillain-Barré os níveis de glicose são normais e a reação de Pandy pode demonstrar aumento de globulinas no líquor.
  • Eletroneuromiografia (ENMG) → é importante para confirmar o diagnóstico e para caracterizar o tipo de lesão da síndrome de Guillain-Barré (desmielinizante x axonal), já que o prognóstico das duas é diferente. Vale lembrar que a ENMG pode ser normal na primeira semana de sintomas! Os achados são mais proeminentes a partir da segunda semana de sintomas. 

Então, lembre-se sempre: o diagnóstico da síndrome de Guillain-Barré é CLÍNICO! Tanto a análise do líquor como a ENMG podem ser normais no início do quadro!

Tratamento

O tratamento é feito com:

  • Suporte clínico → ora, 30% dos pacientes precisam de suporte ventilatório e 20% têm disautonomia grave! Esses precisarão de UTI
  • Imunoglobulina ou plasmaférese → o objetivo é tratar o quanto antes para que melhore o prognóstico. A imunoterapia pode encurtar o tempo de sintomas. Deve ser instituída em até 4 semanas do início dos sintomas.
  • Lembre-se: a corticoterapia NÃO é uma opção para síndrome de Guillain-Barré!

O prognóstico da síndrome de Guillain-Barré é bom, pois 60% dos pacientes se recuperam completamente em 1 ano.

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CaioDisserol

Caio Disserol

Paranaense nascido em 1990. Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) de Curitiba em 2014. Residência em Neurologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Palo (HCFM-USP), concluída em 2019. No HCFM-USP, experiência como preceptor dos residentes entre 2019-2020. Concluiu um fellowship em Neuroimunologia em 2021. Experiência como médico assistente do departamento de Neuropsiquiatria do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR). "As doenças são da antiguidade e nada se altera sobre elas. Somos nós que mudamos na medida em que estudamos e aprendemos a reconhecer o que antes era imperceptível."