Síndrome de Takotsubo: tudo o que você precisa saber

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Conhecida por broken heart syndrome (síndrome do coração partido, em português) e cardiomiopatia de estresse, a síndrome de Takotsubo (SKT) é uma condição que afeta o funcionamento cardíaco. Entretanto, você sabe como ela funciona?

Preparamos este artigo com as principais informações sobre essa doença. Então, continue a leitura para saber as principais manifestações e o tratamento para síndrome de Takotsubo.

Saiba mais sobre a Síndrome de Takotsubo. Imagem disponível em: https://www.verywellhealth.com/thmb/gN3aAg0HEWHWjnIUdoNJK8nzRyA=/1500×1000/filters:fill(87E3EF,1)/broken-heart-syndrome-stress-cardiomyopathy-1746401_V4-3b88b16912f94c3d84b6d36b99a9bc05.png

Como surgiu?

O nome Takotsubo tem origem japonesa e é um tipo de armadilha usada para pegar polvos (tako = polvo) — como o coração parece no ecocardiograma! Há relatos do cientista japonês Sato descrevendo essa condição. 

Porém, antes disso, existem evidências de que pesquisadores percebiam as pessoas tão estressadas que sofriam sem nenhuma outra causa aparente ou trauma relacionado. 

O tempo passou e, em 2004 ocorreu um terremoto severo no Japão. Então, ficou constatada a chamada síndrome de Takotsubo ou síndrome do coração partido, principalmente em povos que residiam perto do epicentro do terremoto. Em 2005, o New England Journal of Medicine reconheceu a síndrome.

Definição da doença

A cardiomiopatia de estresse pode ser definida por disfunção sistólica regional transitória, principalmente do ventrículo esquerdo (VE). Ela simula uma síndrome coronariana aguda (SCA). Porém, na síndrome de Takotsubo, as coronárias são lisas! Ou seja, não há obstrução por placa nem ruptura.

Estudos da Itália, da Alemanha e do Reino Unido concluíram que a síndrome ocorre em 1 ou 2% dos pacientes com suspeita de síndrome coronariana aguda (com troponina positiva e/ou supradesnivelamento do segmento ST). Além disso, ela acontece com mais frequência em mulheres idosas.

Então, surge a pergunta: é necessário levar em consideração a história positiva na família do paciente? Os estudos que atuam em favor dessa hipótese são pequenos e limitados.

Patogênese: o que você precisa saber

Os mecanismos bem estabelecidos dessa síndrome são:

  • espasmo coronariano;
  • excesso de catecolaminas;
  • disfunção microvascular.

As catecolaminas causam estresse metabólico e induzem vasoespasmo vascular, que atordoa os cardiomiócitos (células musculares do miocárdio). Além disso, por si só, elas têm um efeito tóxico na parede do vaso.

Em situações de estresse físico e emocional, há um aumento de catecolaminas (ex.: norepinefrina), o que atua em favor dessa hipótese. Outra situação de excesso de catecolaminas é o feocromocitoma.

Quadro clínico

Para avaliar o quadro clínico dos pacientes que apresentam a condição, é muito importante verificar o histórico para reconhecer os sintomas da síndrome de Takotsubo. Em primeiro lugar, tenha em mente que os casos mais relatados são de:

  • luto ou perda, principalmente inesperado;
  • problemas financeiros;
  • discussões familiares;
  • abuso psicológico e sexual;
  • pânico, medo ou ansiedade.

Sintomas

As principais manifestações são: dor torácica, dispneia e síncope (nessa ordem de prevalência). Outros sintomas relatados são taqui ou bradiarritmias, sinais de insuficiência cardíaca e regurgitação mitral importante. Hipotensão, sudorese e choque também são descritos na literatura.

Exame físico

Devido à hipocinesia do ápice do coração (principalmente do VE), há uma obstrução na saída do VE. Por causa disso, surge um sopro sistólico de pico tardio.

Exames complementares

  • ECG: pode aparecer supra de ST, infra de ST, prolongamento do intervalo QT, inversão de onda T, etc, como na SCA;
  • Troponina: elevada (maioria dos casos);
  • BNP: elevado (maioria dos casos).

Diagnóstico da condição

Em primeiro lugar, o diagnóstico da síndrome de Takotsubo deve ser desconfiado em mulheres idosas (pós-menopausa, principalmente). É importante a busca ativa, ou seja, perguntar se houve algum gatilho emocional, fator estressante ou evento que possa ter desencadeado o quadro. Confira alguns critérios de diagnósticos:

  1. disfunção sistólica transitória do VE (isto é: acinesia, hipocinesia e discinesia);
  2. ausência de feocromocitoma ou miocardite;
  3. ausência de doença coronariana obstrutiva ou evidência angiográfica de ruptura aguda de placa;
  4. novas alterações eletrocardiográficas (supra de segmento ST ou inversão de onda T).

nesses casos, deve-se solicitar ECG + troponina I + ECOTT (para avaliação da função sistólica do VE) + angiografia coronária.

Tratamento e prognóstico

O prognóstico é bom, enquanto a recuperação ocorre em três semanas, em média. É preciso sempre internar o paciente em uma Unidade de Terapia Intensiva e, se for disponível, na Unidade Coronariana. Não há um medicamento específico para a síndrome de Takotsubo. A base do tratamento são medidas de suporte.

Vale relembrá-las: monitorização dos sinais vitais (ritmo cardíaco, oxigenação e pressão arterial) e suporte ventilatório conforme demanda (considerar cateter, VNI ou intubação orotraqueal, se for necessário). Se houver insuficiência cardíaca ventricular esquerda concomitante, trate-a.

Se não houver obstrução de saída do VE

Diurético EV

  • Furosemida 40 mg EV: se não houver resposta adequada, isto é, 30 ml/kg/h de urina, deve-se dobrar a dose em 2h.

Vasodilatador EV

  • Nitroprussiato de sódio (NiprideⓇ): 5-10 mcg/min inicialmente.
  • Nitroglicerina (Tridil): 5-10 mcg/kg/min.

Choque cardiogênico concomitante

  • Dobutamina (inotrópico positivo): 2,5-20 mcg/kg/min;
  • Dopamina (inotrópico nesta dose): 2-20 mcg/kg/min.

Hipotensão persistente (apesar do uso dos inotrópicos)

  • Noradrenalina (vasopressor): 0,05-1 mcg/kg/min

Se houver obstrução da saída do VE

Betabloqueadores

  • Metoprolol, Bisoprolol ou Carvedilol, porque são cardiosseletivos;
  • Doses: Metoprolol: 25-200 mg/dia. | Carvedilol 3,125-25 mg 12/12h. | Bisoprolol 1,25-20 mg/dia.

Caso haja obstrução da saída do VE, os inotrópicos vão piorar a situação do paciente, pois agravam ainda mais a obstrução. Por isso, é necessário usar os betabloqueadores citados.

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FláviaTroiani

Flávia Troiani

Nascida em Santos em 1995 e formada pela Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES) em 2019. Residência em Clínica Médica pela Secretaria Municipal de Saúde (SUS - SMS) em São Paulo. Seu próximo passo é entrar em Cardiologia, inspirada pela sua mãe, médica da área.