Sabe aquele susto quando uma menina com menos de 8 anos aparece com brotos mamários? Isso pode ser só uma telarca precoce, que é uma variante da normalidade desde que não ocorra a presença de outros sinais de puberdade, secreção estrogênica (telarca precoce isolada), ou o primeiro sinal de uma puberdade precoce de verdade, seja central ou periférica.
Por isso, é essencial saber diferenciar um quadro benigno de um processo patológico que exige acompanhamento e investigação.
Quer entender melhor como diferenciar a telarca precoce isolada da puberdade precoce verdadeira e quais exames são necessários? Continue lendo e descubra tudo o que você precisa saber para conduzir esses casos da melhor forma!
O desenvolvimento mamário na infância ocorre devido a uma sensibilização do tecido mamário aos estrógenos, que podem ter origem exógena ou endógena. Mas e quando essa mama aparece antes do esperado? Aí que está o pulo do gato, pois podemos estar diante de uma variante da normalidade (telarca precoce isolada) de uma causa patológica (puberdade precoce patológica).
A telarca precoce idiopática, a forma mais comum e resulta de uma discreta ativação do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (HHG), mas sem progressão puberal sustentada. Até o momento, não há uma causa exata para tal condição.
Mas sabemos que a maioria desses casos ocorre nos primeiros 2 anos de vida, mas se esse desenvolvimento mamário rolar um pouco mais tarde, entre 4 e 7 anos, pode ser um alerta de que a puberdade precoce está a caminho.
Diferentemente desse processo benigno, a telarca precoce, como falamos, pode ser considerada o início de um processo patológico, a puberdade precoce, que pode ser de causa central – mais comum em meninas – ou periférica.
Nas meninas, 60-90% das PPC são idiopáticas, ou seja, sem uma causa específica, já nos meninos, no entanto, a maior parte (até ⅔) pode ser causada por alterações no sistema nervoso central, sendo os tumores cerebrais os principais exemplos.
O diagnóstico da telarca precoce baseia-se principalmente na história clínica e no exame físico. É fundamental avaliar o padrão de progressão do desenvolvimento mamário, através do estadiamento de Tanner, e a presença de outros sinais de puberdade (como crescimento acelerado, aparecimento de pelos pubianos e odor axilar).
Na telarca precoce isolada, a única alteração é o desenvolvimento das mamas, sem outros sinais de puberdade. A estatura da paciente fica dentro do esperado para a idade cronológica, e a mama raramente passa do M3 de Tanner.
Na puberdade precoce, podemos encontrar apenas a telarca quando bem no início do quadro, ou os demais sinais puberais a depender da causa etiológica.
Quando o quadro clínico for sugestivo de telarca precoce isolada (principalmente nos primeiros dois anos de vida), os exames complementares não são obrigatórios. Agora, quando o início da telarca ocorre após os 4 anos de idade ou houve evolução muito rápida das mamas, os exames devem ser solicitados.
Dentre eles, destacamos a tríade LH, FSH e estradiol. Na presença de galactorreia, deve-se solicitar a prolactina.
Nos casos de puberdade precoce periférica, os exames – além dos acima – devem ser direcionados para a possível causa base, se for possível a sua diferenciação.
A idade óssea nos ajuda a diferenciar os quadros de telarca precoce isolada da puberdade precoce. Na primeira, a idade óssea (IO) costuma ser compatível com a cronológica. Já na segunda, geralmente encontramos avanço da IO.
O USG pélvico não costuma ser indicado rotineiramente, mas pode ser solicitado a depender da suspeita clínica.
Na maioria das vezes, a telarca precoce idiopática é algo passageiro e não afeta o desenvolvimento puberal no futuro,nesses casos a gente só precisa acompanhar!
O ideal é fazer consultas periódicas para monitorar sinais de progressão puberal, ou seja, verificar caso haja progressão rápida do desenvolvimento mamário, aceleração do crescimento ou aumento da idade óssea, deve-se considerar investigação adicional para puberdade precoce.
Em situações onde a causa subjacente é identificada (puberdade precoce central ou periférica), o tratamento deve ser direcionado para a condição específica. Nos casos de puberdade precoce central, o uso de análogos de GnRH pode ser indicado para bloquear a progressão puberal, já na PPP, o tratamento depende da causa.
A telarca precoce pode ser um evento benigno ou um sinal de puberdade precoce em desenvolvimento. O segredo está em saber identificar os sinais de alerta e solicitar os exames certos para garantir um diagnóstico preciso e uma conduta adequada.
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Paulista, nascido em Garça em 1992. Formado pela Faculdade de Medicina de Catanduva (FAMECA) em 2018. Residência em Pediatria na Universidade de São Paulo (USP-RP). Só a educação liberta.