Fala, galerinha! Hoje vamos abordar um tema que é queridinho da galera da Cirurgia, mas que pro pessoal de outras áreas muitas vezes é um bicho-de-sete-cabeças: toracostomia com drenagem pleural fechada. A drenagem pleural, apesar de ser um procedimento cirúrgico, NÃO é papel exclusivamente do cirurgião. TODO MÉDICO deve saber drenar um tórax!
Além de ser um procedimento bastante frequente nas emergências (especialmente na sala de trauma), a drenagem pleural, junto com a sutura, são os procedimentos mais cobrados na estação de Cirurgia das provas práticas de residência médica ao redor do país!
Já ficou bem clara a importância de saber tudo sobre esse procedimento? Então, vamos lá!
A toracostomia com drenagem pleural fechada, ou popularmente conhecida como “dreno de tórax”, é um procedimento cirúrgico que consiste na introdução de um dreno tubular através da parede torácica, para a retirada de líquido ou ar acumulado de forma anômala na cavidade pleural. Pode ser realizado de urgência ou de maneira eletiva.
As principais indicações da toracostomia com drenagem pleural fechada incluem:
Não existem contraindicações absolutas – especialmente no cenário de urgência e emergência! Nas indicações eletivas, temos algumas contraindicações relativas em situações que exigem mais cautela devido ao maior risco de complicações, como:
As duas últimas podendo ser manejadas com o uso de exames de imagem (ultrassonografia ou tomografia computadorizada) para guiar a drenagem.
A toracostomia com drenagem pleural fechada pode ser realizada em Centro cirúrgico, leito de UTI ou Sala de Procedimentos. No entanto, em situações de emergência, vamos realizá-la na própria Sala do Trauma ou onde o paciente estiver internado. Devemos evitar a drenagem torácica em ambiente pré-hospitalar – são indicadas apenas as medidas temporárias como a punção descompressiva no pneumotórax hipertensivo, ou o curativo de três pontas no pneumotórax aberto.
Antisséptico, gazes e pinça para antissepsia |
Campo estéril |
Anestésico local (por exemplo, Lidocaína 1-2%), seringa e agulhas para aplicação da anestesia |
Cabo e lâmina de bisturi |
02 pinças hemostáticas longas (por exemplo, Kelly, Rochester, Schmidt…) |
Porta-agulhas e fio de sutura grosso não absorvível (nylon 1.0, por exemplo) |
Tesoura |
Dreno torácico de tamanho adequado (geralmente, 28-32 Fr para adultos) |
Sistema coletor em selo d’água |
Tudo separadinho, vamos deixar nosso paciente na posição que facilite nossa toracostomia, antes de estarmos “estéreis”, porque aí não vamos mais poder mexer na posição dele sem nos contaminarmos!
A posição preferencial é o decúbito dorsal com a cabeceira elevada, com o membro superior ipsilateral estendido sob a cabeça e cotovelo fletido.
O sítio da incisão se localiza no quarto ou quinto espaços intercostais (frequentemente coincide com a linha do mamilo), entre a linha axilar anterior e a média, dentro da área que chamamos de “Triângulo de Segurança”, delimitado pela borda anterior do latíssimo do dorso, borda inferior do peitoral maior e o centro (apex) da axila.
Por ser um procedimento estéril, vamos colocar máscara, gorro, óculos de proteção (não é obrigatório, mas é sempre bom para nossa segurança!), fazer a lavagem cirúrgica das mãos, colocar avental e luvas estéreis. Realizar a antissepsia em toda a parede lateral do tórax, incluindo o mamilo, e colocar os campos estéreis.
Não podemos esquecer de aplicar a anestesia local, seguindo os princípios básicos e lembrando dos três “P”s dos Planos dolorosos da drenagem pleural: Pele, Periósteo e Pleura Parietal! A drenagem pleural é um procedimento EXTREMAMENTE doloroso!
Enquanto a anestesia faz efeito, a gente vai aproveitar para medir o dreno! Existem várias formas de medí-lo, mas o ATLS preconiza a colocação da extremidade fenestrada sobre a clavícula, fazendo uma pequena curva sobre o tórax em direção ao local da incisão, e aí vamos colocar uma pinça hemostática na medida, para marcar!
Agora sim vamos partir para a drenagem propriamente dita! No local predeterminado lá atrás, fazemos uma incisão de 2 a 3 centímetros, paralela às costelas, na pele e no subcutâneo.
Partimos então para uma dissecção romba com a pinça hemostática, direcionando para a margem superior da costela (fugindo do feixe vásculo-nervoso, que passa na margem inferior), até atingirmos a pleura parietal. Perfuramos a pleura parietal com nossa pinça e sentimos uma perda de resistência – muito cuidado aqui para não “entrar com tudo” e perfurar o pulmão!
Vamos abrir ao máximo a pinça e retirá-la, para ampliar esta abertura da pleura.
Depois, exploração digital – colocaremos nosso dedo enluvado dentro da cavidade para verificar presença de aderências pleurais ou massas e localizar o diafragma (para termos certeza de que não adentramos na cavidade abdominal. Acredite, acontece bastante também!).
Partimos então para a colocação do dreno com auxílio de pinça hemostática, direcionando-o posterior e superiormente, até atingirmos a marca que fizemos lá atrás com a medida com a pinça hemostática, e conectar no selo d’água.
Para confirmar a localização do dreno, podemos observar a condensação no interior do dreno, ver o fluxo de saída de ar ou secreção, pedir para o paciente tossir pra ver se forma bolha no selo d’água, entre outros.
Existem várias formas de fixação do dreno, mas a usual é a utilização de fios grossos com um ponto em U seguido pela fixação em “bailarina”. Após isso, só partir para o curativo!
IMPORTANTE! Não vamos esquecer de anotar o débito imediato, principalmente no contexto do trauma! Lembrem que vamos indicar toracotomia se drenagem inicial > 1.500mL ou > 200mL por hora nas primeiras 2 a 4 horas subsequentes (Hemotórax maciço)!
Tradicionalmente, a gente pede Raio-X para localização do dreno após toda drenagem, no entanto, essa conduta tem sido julgada como dispensável caso o dreno esteja funcionando corretamente e houver sinais clínicos de reexpansão pulmonar.
Ao final de tudo, vamos descrever o procedimento em prontuário, orientar nosso paciente e/ou o acompanhante, responder dúvidas e ficar atento aos critérios de retirada do dreno!
Quanto às complicações da toracostomia com drenagem pleural fechada, vamos ficar atentos aos riscos potenciais do procedimento:
Bem, galerinha, espero que com o tema de hoje vocês se sintam um pouco mais seguros para realizar a toracostomia com drenagem pleural fechada, principalmente no contexto de emergência.
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Abraços, bons estudos, e até a próxima, pessoal!
Nascida em Belém do Pará no ano de 1992. Formada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) em 2017, com residência em Cirurgia Geral pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) no Paraná, concluída em 2020. Residência em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Santa Casa de Limeira-SP. "Lembre-se: seu foco determina a sua realidade" (Qui-Gon Jinn em 'Star Wars: A Ameaça Fantasma'). Siga no Instagram: @laracochete