Trauma Cervical: saiba mais sobre as zonas e condutas

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Fala, galera. Como vocês estão? Mais um tema cirúrgico aqui no blog, que normalmente não é tão difundido pela região afetada e particularidades anatômicas: trauma cervical. A ideia é que até o final do texto vocês se familiarizem com as zonas cervicais e saibam definir a necessidade de avaliação cirúrgica imediata no setor de emergência.

Ao pensarmos em pescoço, fica claro que há muita estrutura em um espaço pequeno, logo, vamos dividir as lesões em grupos: 

  • circulatórias (carótida, artéria vertebral, vasos subclávios, jugulares);
  • nervosas (medula);
  • respiratórias (laringe e traqueia);
  • digestivo (faringe e esôfago). 

Outro ponto importante é definirmos se estamos falando de trauma penetrante ou contuso. No trauma penetrante, o que diferencia lesões superficiais de profunda é o músculo platisma, e as lesões mais comuns (em ordem) são as vasculares > neurológicas > aerodigestivas. No trauma contuso, as principais estruturas lesadas são laringe e coluna cervical.

Para começar a falar de trauma cervical: a anatomia

Do ponto de vista cirúrgico, o pescoço é divido em 3 zonas:

Trauma cervical - saiba mais
Figura 1: Zonas Anatômicas do Pescoço. Fonte: ROON & CHRISTIANSEN,1979 - The Journal of Trauma: Injury, Infection, and Critical Care: June 1979 - p 391-397.
Figura 1: Zonas Anatômicas do Pescoço. Fonte: ROON & CHRISTIANSEN,1979 – The Journal of Trauma: Injury, Infection, and Critical Care: June 1979 – p 391-397.

A zona 1 é a de maior mortalidade devido ao acesso cirúrgico difícil que pode se dar por esternotomia ou toracotomia anterolateral.

Já a zona 2 é a mais comumente acometida e de menor letalidade, com acesso por meio de cervicotomia transversa exploradora ou cervicotomia paralela ao músculo esternocleidomastoideo se lesão vascular isolada.

Por fim, a zona 3 é a de acesso mais complexo. 

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Figura 2: Incisões cirúrgicas para exploração de lesão cervical. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/surgical-exploration-for-severe-neck-trauma?search=neck%20injuries&source=search_result&selectedTitle=5~150&usage_type=default&display_rank=5#H349836041

Assim como todo trauma, o ABCDE é imperativo. A necessidade de estabelecer uma via aérea definitiva se dá na presença de: 

  • hematoma cervical em expansão; 
  • rouquidão; 
  • estridor; 
  • enfisema subcutâneo; 
  • hemoptise; 
  • sopro ou frêmito; 
  • dor para deglutição de saliva.

A tríade rouquidão, enfisema subcutâneo e fratura palpável deve nos alertar para trauma de laringe, e a via aérea definitiva de primeira escolha continua sendo intubação orotraqueal (IOT). A segunda escolha é a traqueostomia. 

Tratamento

Para facilitar, vamos estabelecer algumas “regras do trauma cervical penetrante”

  • Paciente instável hemodinamicamente deve ser submetido à cervicotomia exploradora;
  • Paciente estável hemodinamicamente, mas com lesão óbvia (hemorragia intensa, hematoma em expansão, obstrução de vias aéreas, enfisema subcutâneo progressivo, piora neurológica) deve ser submetido à cervicotomia exploradora;
  • Paciente estável hemodinamicamente e sem lesão óbvia nos dá tempo para realização de exames complementares, sendo o principal a angiotomografia cervical.
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Figura 3: Fluxograma do trauma cervical penetrante.

Mas calma, nem todo mundo precisa operar. O paciente estável hemodinamicamente permite ser estudado com cautela. o exame inicial geralmente é um tomografia computadorizada com contraste venoso, mas existem exames mais direcionados:

  • Investigação respiratória: laringoscopia e broncoscopia (lesões de traqueia);
  • Investigação cardiovascular: arteriografia (padrão-ouro), angioTC e USG doppler;
  • Investigação digestiva: endoscopia digestiva alta ou esofagograma para avaliar lesão esofágica.

Agora, nos pacientes em que temos indicação de abordagem cirúrgica, abordaremos de acordo com a estrutura lesada:

  • Traqueia: desbridamento e sutura primária. Se perda de 3 ou mais aneis, faremos uma traqueostomia com reconstrução em um segundo momento;
  • Esôfago: sutura primária se < 12 horas; se > 12 horas: exclusão esofágica com esofagostomia cervical e drenagem, além de gastrostomia para nutrição;
  • Veia jugular interna: se unilateral, pode ser ligada sem repercussão clínica ao paciente; se bilateral: recomenda-se a rafia de pelo menos uma delas;
  • Artéria carótida: sutura primária em pequenas lesões; se maior extensão pode ser necessário enxerto sintético ou veia autóloga (como a safena).

Sobre o trauma cervical, é isso! 

Galera, a ideia aqui não é esgotar o assunto, mas garantir que vocês terminem a leitura com os pontos principais bem sedimentados, beleza? 

É isso, pessoal! Esperamos que tudo tenha ficado claro e que você tenha compreendido o conteúdo!

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Referências

  1. Kim Newton, MD. Penetrating neck injuries: Initial evaluation and management. 
  2. Jose J Diaz, Jr, MD, CNS, FACS, FCCM. Surgical exploration for severe neck trauma. 

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MatheusCarvalho Silva

Matheus Carvalho Silva

Matheus Carvalho Silva, nascido em 1993, em Coronel Fabriciano (MG), se formou em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência em Cirurgia Geral na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM).