É assim que tem sido chamado o ultrassom point-of-care (POCUS). Isso ocorre devido aos avanços tecnológicos que permitiram máquinas cada vez mais portáteis, levando a ultrassonografia diretamente ao local onde o paciente está, como em um leito, centro cirúrgico, ambulância ou, até mesmo, na sala de trauma.
Nesta modalidade o médico responsável pelos cuidados do paciente realiza a aquisição, interpretação e a integração dos dados encontrados no exame de ultrassom realizado por ele com os obtidos a partir da anamnese feita com o paciente, permitindo que a ultrassonografia se tornasse um componente essencial do exame físico.
O ultrassom point of care é capaz de aumentar a acurácia e diminuir o tempo necessário para a realização de um diagnóstico, auxilia na realização de procedimentos e diminui os custos gerados no cuidado do paciente. Além disso, possui alta disponibilidade e forma compacta, sendo possível ser transportado para diversos lugares. Vale lembrar que o ultrassom é um método que não produz radiação ionizante e, é considerado mais barato quando comparado com outros exames como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética.
Antes de falarmos das desvantagens do point-of-care, temos uma dica: nosso curso de ECG que vai te levar do zero ao especialista nesse exame. Ao final do curso você vai conseguir interpretar qualquer eletrocardiograma sem dificuldades. Faça sua inscrição e domine o ECG!
Uma delas já é bastante conhecida que é o fato de ser operador dependente, o que implica grande necessidade de educação e treinamento do profissional que vai utilizar esse método. Outra informação que não deve ser esquecida é que, apesar de ser um método largamente utilizado sem evidências de consequências negativas significativas para saúde do paciente submetido ao exame, é uma forma de energia que produz efeitos biológicos ao atravessar os tecidos.
Dois mecanismos são mais frequentemente descritos, os que estão relacionados a alteração de pressão e os efeitos térmicos que resultam da transformação da onda sonora em calor. Portanto, o exame de ultrassom deve ser utilizado quando há indicação clínica e pelo menor tempo possível, seguindo os princípios ALARA que em português significa “tão baixo quanto razoavelmente exequível”, ou seja, promover o uso racional com a menor utilização possível para alcançar determinado resultado.
A ultrassonografia point of care é utilizada em diversas situações da prática clínica e em todas as fases dos cuidados, podendo fazer parte do screening, diagnóstico, na monitorização do paciente e para guiar procedimentos.
Talvez o uso mais conhecido do POCUS e o tópico mais abordado nas questões de residência desse assunto. O protocolo FAST (focused assessment with sonography in trauma) possibilitou que os clínicos fossem capazes de realizar uma rápida avaliação de lesões nos pacientes vítimas de trauma, principalmente nos casos de instabilidade hemodinâmica em que o paciente não pode ser transportado para a tomografia.
As principais indicações do exame são de pacientes com trauma abdominal fechado, torácico fechado e/ou penetrante e em pacientes estáveis e/ou instáveis. Além da pesquisa de líquido livre, pode ser utilizado para detecção de lesões em órgãos sólidos, pneumotórax, fraturas, exames seriados e utilização no transporte pré-hospitalar.
Uma das principais finalidades do exame é a procura por líquido livre no pericárdio, nos espaços pleurais e na cavidade peritoneal. Este dado é importante, pois há uma correlação entre a presença de líquido livre abdominal com a existência de um volume maior que 1000ml em cavidade intraperitoneal, podendo provavelmente significar um sangramento intra-abdominal importante ou de alto risco, sendo um sinal importante de alerta de gravidade para o intensivista.
Além disso, uma das particularidades e principais aplicabilidades do FAST é sua utilização em ambientes de difícil acesso a outros métodos complementares, compreendendo situações em que a obtenção de dados pode ser decisiva na tomada de conduta. É possível, ainda, que ele seja utilizado como método de screening nos casos de acidentes envolvendo múltiplas vítimas, como nas catástrofes naturais e nos conflitos de guerra.
Em relação à técnica, os locais clássicos de avaliação compreendem os quadrantes superior direito (A) e esquerdo, incluindo a avaliação dos espaços hepatorrenal e esplenorrenal, janela supra-púbica (C) com avaliação do fundo de saco e a janela cardíaca subxifoide para avaliação do coração (D).
Como já vimos anteriormente, devido a versatilidade do POCUS foram criados diversos outros protocolos, os principais são:
Acrônimo | Avaliação |
eFAST | Pesquisa de líquido livre intrabdominal e pericárdico, avaliar presença de pneumotórax. |
BLUE | Derrame pleural, parênquima pulmonar e pneumotórax |
FEEL, FEER, BELS, ELS, etc. | Tamanho e funcionamento dos ventrículos esquerdo e direito, derrame pericárdico e avaliação da veia cava inferior |
FATE | Avaliação ultrassonográfica básica utilizando os modos B e M para interpretar achados ecocardiográficos no contexto clínico |
RUSH | eFAST + avaliação da aorta abdominal + avaliação cardíaca |
Esperamos que você tenha gostado desse texto e aprendido um pouco desse método incrível! Apesar da grande aplicabilidade do POCUS e um número imenso de indicações, principalmente na urgência e emergência, ele ainda possui desvantagens como o fato de ser operador dependente e não estar totalmente livre de produzir efeitos biológicos, portanto nunca é demais lembrar de sempre verificar se o exame tem indicação clínica apropriada e promover o uso racional do método.
Confira mais conteúdos de Medicina de Emergência, dá uma passada lá na Academia Medway. Por lá disponibilizamos diversos e-books e minicursos completamente gratuitos! Por exemplo, o nosso e-book ECG Sem Mistérios ou o nosso minicurso Semana da Emergência são ótimas opções pra você estar preparado para qualquer plantão no país.
Caso você queira estar completamente preparado para lidar com a Sala de Emergência, temos uma outra dica que pode te interessar. No nosso curso PSMedway, através de aulas teóricas, interativas e simulações realísticas, ensinamos como conduzir as patologias mais graves dentro do departamento de emergência.
Paraense apaixonada pela radiologia. Formada pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Residência em Radiologia e Diagnóstico por Imagem na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Adora a culinária paraense, novas tecnologias e a arte de ensinar.