Não há dúvida de que a dengue é assunto de extrema relevância em saúde pública. Pacientes com sintomas compatíveis com infecção pelo vírus da dengue são frequentes no dia a dia das USFs e PAs durante períodos de maior incidência. Entretanto, o que você sabe sobre a vacina contra dengue?
Como se não bastasse, quadros de febre hemorrágica da dengue estão associados à elevada morbimortalidade e à necessidade de atendimento em serviços de maior complexidade. No entanto, a vacina contra dengue surge como uma nova alternativa? Continue a leitura para compreender sobre o imunizante
Diversas estratégias e ações têm sido desenvolvidas e empregadas na tentativa de controlar a epidemia enfrentada no país. Entre as principais medidas adotadas em larga escala e disponíveis até o momento, temos o combate ao vetor da doença, o Aedes aegypti.
Entretanto, o combate ao vetor tem se mostrado insuficiente e, muitas vezes, pouco efetivo. Isso porque o Aedes possui fácil adaptação no meio urbano, favorecendo-se da urbanização para a replicação.
Muito se esperava por uma alternativa no combate à epidemia de dengue. Em 2015, acreditava-se que, finalmente, teríamos uma alternativa eficaz quando a primeira liberação de vacina contra o vírus ocorreu no território nacional.
A CYD-TDV (Dengvaxia®), foi liberada pela ANVISA para comercialização e combate à dengue, uma vacina tetravalente (contendo os quatro sorotipos da dengue), de formulação quimérica e recombinante.
O desenvolvimento da Dengvaxia® ocorreu por meio da utilização da cepa do vírus de febre amarela (FA), utilizado na vacina contra essa doença (YF 17D 204). Nesta cepa, foi feita a substituição dos genes que codificam as proteínas da pré-membrana e do envelope viral da FA por genes de cada uma das cepas do vírus da dengue. Dessa forma, obteve-se a formação de DNAs quiméricos e a posterior replicação viral em culturas empregadas na vacina.
Os ensaios clínicos que avaliaram segurança e eficácia baseiam-se na realização de 3 doses nos meses 0, 6 e 12. A eficácia variou conforme o sorotipo, sendo maior para os sorotipos DENV-3 e DENV-4 (aproximadamente 75%).
Para o sorotipo 1, foi de 50%. Para o sorotipo 2, foi de 35 a 42%. A vacina contra dengue foi considerada como tendo um bom perfil de segurança após acompanhamento e vigilância ativa dos pacientes por 25 meses.
Em 2017, a vacina mostrou maior proteção em pacientes com exposição prévia a algum sorotipo da dengue. Porém, o grande problema foi que, em pacientes sem exposição prévia, identificou-se um maior risco de evolução para formas graves da doença e necessidade de hospitalização
Esse fator dificultou o emprego dessa vacina em larga escala, uma vez que, a partir desse dado, faz-se necessária a realização de sorologia antes da vacinação ou a documentação laboratorial de infecção de algum sorotipo da DENV.
Muitas vezes, a infecção cursa com sintomas inespecíficos, podendo confundir-se com outras arboviroses. Dessa forma, até o atual momento, a vacina contra dengue não faz parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Tal efeito associado à vacina e aos quadros mais graves relacionados a uma segunda infecção por sorotipo diferente é conhecido como “antibody-dependent enhancement” (ADE). Isso ocorre pois a resposta imunológica frente à infecção prévia é sorotipo específico.
Acreditava-se que, com uma vacina que gerasse proteção contra os quatro sorotipos existentes, tal processo fosse controlado. Porém, como vimos anteriormente, a imunogenicidade não é semelhante entre os sorotipos.
Dessa forma, caso o paciente seja exposto posteriormente a um sorotipo para o qual não desenvolveu imunidade, os anticorpos para outro sorotipo se ligam ao vírus, mas não de forma a inativá-lo.
A formação desse imunocomplexo facilitaria a entrada do vírus nas células e, consequentemente, a replicação viral. Tal processo estaria associado a manifestações mais graves.
Pelos motivos que falamos acima e pela maior imunogenicidade da vacina em pacientes previamente infectados por algum sorotipo da dengue, a vacina contra dengue passou a ser indicada apenas para pacientes que já tiveram dengue previamente. Isso inviabilizou a utilização dessa vacina em larga escala.
Outras vacinas encontram-se em estudo, algumas já na fase 3. Recentemente, uma delas, a TAK-003, teve pedido de registro enviado à ANVISA e aguarda aprovação. A TAK-003 também é uma vacina de vírus vivo atenuado, porém direcionada para o sorotipo 2, que gera imunidade para todos os quatro sorotipos.
Entretanto, apesar de se mostrar eficaz e bem tolerada, os estudos ainda mostraram proteção variável entre os diferentes sorotipos. Dessa forma, ainda aguardamos a conclusão dos estudos e a liberação do registro para melhor avaliação.
Independentemente disso, os avanços são grandes e seguimos esperando uma vacina contra a dengue eficaz e segura, de forma a frear a propagação da epidemia e as complicações causadas por essa doença tão prevalente em nosso país.
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A dengue é um assunto recorrente quando falamos em saúde, mas você sabia que existem diferentes tipos de classificação dessa doença viral? Além de conhecer o assunto de forma mais aprofundada, aproveite para conferir outros conteúdos sobre residência médica e Medicina de Emergência aqui, em nosso blog!
Nascido em São Paulo SP em 1994. Médico pela Faculdade de Medicina de Jundiaí desde out. de 2019. Residência em Infectologia do Instituto de Infectologia Emílio Ribas em São Paulo. Apaixonado por estudar e trabalhar com saúde de populações em situação de vulnerabilidade.
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