Muitos médicos ficam receosos na hora de realizar uma cardioversão elétrica sincronizada (CVES) ao se depararem com taquiarritmias no PS. No entanto, essa é uma emergência médica prevalente que precisa ser tratada de forma imediata, devido ao risco de evolução desfavorável e até de óbito.
Mas calma: fazer uma cardioversão no doente não precisa ser um bicho de sete cabeças! Por isso hoje vamos te ensinar, passo a passo, como realizar esse procedimento. Vamos por partes?
Antes de respondermos a pergunta, temos uma dica de ouro pra te dar: se você quer dominar a base da analgesia e sedação e se sentir seguro para prescrever um plano de analgesia otimizado e individualizado, sugiro fazer o nosso Curso de Analgesia e Sedação: do PS à UTI.
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Agora, voltando ao assunto, primeiro vamos falar do importantíssimo conceito: a cardioversão elétrica sincronizada (não confundir com a cardioversão química) é diferente da desfibrilação elétrica! Elas têm indicações distintas, específicas e bastante precisas.
A cardioversão elétrica sincronizada NÃO deve ser usada em pacientes com fibrilação ventricular/taquicardia ventricular sem pulso ou em TV polimórfica instável. Essas últimas situações são exemplos claros de indicações para realizar a desfibrilação!
E por que esses dois termos geram tanta confusão? Bom, ambos os procedimentos equivalem à aplicação de choques elétricos no doente. No entanto, na cardioversão a corrente elétrica é sincronizada com o complexo QRS sobre o tórax, para reversão de taquiarritmias.
Em termos práticos, sincronizar nada mais é que apertar um botão no seu cardioversor. Mas qual a função disso? Ora, a sincronização evita o famoso fenômeno “R sobre T”, ou seja, a aplicação do choque durante o período refratário relativo do ciclo cardíaco.
Lembre-se lá da fisiologia cardíaca! Se você realiza um choque durante esse período, pode deflagrar uma fibrilação ventricular (FV)! Perceba a importância da sincronização.
Em contexto de PS, a cardioversão é um procedimento indicado principalmente para as taquiarritmias instáveis. Ou seja, deve ser realizada de urgência sempre que o paciente apresentar algum dos sinais de gravidade/instabilidade. Quais são eles? Entram aqui sinais e sintomas de baixo fluxo ou que indiquem a evolução com alguma complicação: dor torácica, dispneia, síncope, hipotensão e/ou rebaixamento do nível de consciência.
Ou seja, a cardioversão elétrica sincronizada tem indicações tanto para taquicardias ventriculares (exceto nos casos de PCR), quanto atriais ou supraventriculares. Fechou?
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Bom, vamos para a parte prática! Como realizo uma cardioversão elétrica?
Gostaria de apresentar o acrônimo OSASCO, famoso e que ajuda bastante a recordar o passo a passo do procedimento. Então, vamos lá!
O – Orientar o paciente: ponto fundamental, sempre explicamos o procedimento ao nosso doente. Para isso, certifique-se de que o paciente está monitorizado e que todos os equipamentos e materiais necessários estão preparados e checados. Além disso, cheque se toda a equipe encontra-se pronta para a realização da cardioversão elétrica sincronizada.
S – Sedar: sempre utilizamos drogas sedativas para o procedimento! Afinal, você imagina o quanto deve ser traumático levar um choque no peito? Como exemplos, temos: Midazolam 0,1 mg/kg, Fentanil 2mcg/kg, Etomidato 0,1mg/kg ou Propofol 0,5 mg/kg. Administra-se a droga e, após o efeito desejado, seguimos para o próximo passo.
A – “Ambuzar”: lembre-se de fornecer O2 ao paciente que agora está sedado e, caso seja necessário, realize ventilação com o dispositivo bolsa-valva-máscara. Aqui, você não pode galinhar: separe o material de intubação orotraqueal e deixe tudo sempre disponível para ser usado em caso de complicação nesta etapa, como falha na oxigenação e ventilação.
S – Sincronizar: lembra o que falei lá em cima? Selecionamos a carga desejada e sempre prosseguimos com a SINCRONIZAÇÃO. Já que chegamos até aqui, vou te apresentar as cargas iniciais clássicas, que variam conforme a patologia de base:
C – Chocar: finalmente! O choque deve ser aplicado com o posicionamento correto das pás no tórax do paciente: uma na borda superior direita do esterno (abaixo da clavícula) e outra na região do ictus cardíaco. O operador sempre deve aplicar firmemente as pás (colocando um peso de aproximadamente 10kg sobre elas).
O – Observar: ok, realizamos o procedimento. Em seguida, sempre que aplicado o choque, deve-se manter as pás posicionadas no tórax do paciente, observando e reavaliando o ritmo. Caso não tenha ocorrido a reversão, o aparelho deve ser sincronizado novamente e a carga aumentada para que se realize o próximo choque, a fim de reverter quaisquer tipos de arritmias.
O que comentamos acima é o que você precisa saber para a sua prática. Afinal, não existe desculpa quando o assunto é fazer uma cardioversão no doente — tem que saber, sem medo!
Para finalizar: após a reversão, o paciente deve permanecer monitorizado, e ser reavaliado em curtos períodos, clinicamente e com sinais vitais. O médico só sai do lado do paciente quando assegurada sua estabilidade hemodinâmica, elétrica e ventilatória. Isso vale para a maioria das urgências!
Estamos combinados?
Esperamos que esse conteúdo tenha ficado claro pra você! Como dissemos lá no começo, muita gente se sente insegura na hora de realizar uma cardioversão elétrica sincronizada, então é importante trazer esse diferencial que pode fazer a diferença na vida do seu paciente.
E além de ter segurança na hora de realizar uma cardioversão elétrica sincronizada, manjar da interpretação de um ECG é outro conhecimento que pode fazer a diferença na vida do paciente! Se você ainda tem dúvidas sobre esse tema, já passou da hora de saná-las. Sugiro que você dê uma olhada no nosso e-book gratuito ECG Sem Mistérios que conta tudo o que todo médico precisa saber sobre a interpretação desse exame. Não vai dar bobeira, hein? Comece a ler já!
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Bons estudos e até a próxima!
Capixaba, nascido em 90. Graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e com formação em Clínica Médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e Administração em Saúde pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Apaixonado por aprender e ensinar. Siga no Instagram: @joaovitorsfernando