Zoonoses: confira tudo que você precisa saber

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Pessoal, nos últimos dias, vem repercutindo um acontecimento muito triste: de acordo com o site Yahoo Brasil,  uma criança ingeriu uma lagarta e veio a falecer. Sendo assim, precisamos falar sobre as zoonoses, já que isso é mais comum do que imaginamos e precisamos estar alertas. 

O que é zoonose?

A Organização Mundial de Saúde define zoonose como enfermidades transmitidas naturalmente dos animais ao homem. 

Entre as zoonoses mais prevalentes no Brasil, pode-se destacar a febre maculosa, influenza aviária, larva migrans cutânea, leishmaniose, leptospirose, doença de Chagas, febre amarela e dengue.  

Mais de 200 zoonoses são conhecidas, sendo causa de morbidade e mortalidade em grupos demográficos vulneráveis, especialmente crianças, idosos e trabalhadores ligados às áreas da saúde pública e veterinária. 

A saúde humana e a animal estão indissoluvelmente ligadas. Além do aumento da população humana, outros fatores globais favoreceram a emergência de agentes de doenças zoonóticas, como: 

  • comércio e viagens;
  • mudanças no habitat terrestre;
  • poluição;
  • expansão da produção animal. 

A OMS também divide as zoonoses em dois grupos: as antropozoonoses, que são doenças dos animais passadas para os humanos, e as zooantroponoses, enfermidades transmitidas dos humanos para os animais. 

Transmissão das zoonoses 

A transmissão pode ocorrer de forma direta, principalmente através do contato com secreções (saliva, sangue, urina, fezes) ou contato físico, como arranhaduras ou mordeduras. 

De forma indireta, pode acontecer através dos vetores, como mosquitos e pulgas, por contato indireto com secreções, consumo de alimento contaminado com o agente (viral, bacteriano, fúngico ou parasitário), etc. 

Principais zoonoses 

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Agora, voltando ao assunto, cada uma dessas doenças pode ser causada por um animal diferente e ter um compilado de sintomas ou consequências distintas.

Raiva

É uma doença causada por vírus, geralmente letal, uma vez que atinge o sistema nervoso e os seus primeiros sinais clínicos aparecem após um período de 3 a 8 semanas. Os seus principais sinais e sintomas são: 

  • manifestações de irritação e excitabilidade;
  • agressividade;
  • dificuldade de engolir e andar;
  • paralisias musculares.

E como podemos prevenir ou controlar a raiva

  • vacinação dos animais domésticos;
  • controle de morcegos hematófagos;
  • observação de cães/gatos após mordeduras;
  • vacinação/soroterapia humana pós-acidentes.

Ela é transmitida por meio de hospedeiros que mantêm o vírus rábico na natureza. Esses hospedeiros são os carnívoros e os quirópteros. A transmissão se dá através de soluções de continuidade.

Não existe tratamento para a doença, por isso, a prevenção é essencial. Em caso de acidentes por mordedura ou agressões por animais, é necessário realizar a lavagem do local com água e sabão imediatamente. 

Então, deve ser procurado auxílio médico e/ou posto de saúde para início do esquema de vacinação e/ou soroterapia

Leishmaniose visceral

É uma doença infecciosa sistêmica causada pelo protozoário Leishmania infantum chagasi. Os principais sinais e sintomas são: 

  • febre de longa duração;
  • aumento do fígado e baço;
  • perda de peso e fraqueza, redução da força muscular;
  • anemia.

E como podemos prevenir ou controlar a leishmaniose visceral?

  • avaliação do animal pelo médico veterinário;
  • limpeza de quintais com a retirada de folhas, troncos, restos de vegetação, para evitar a reprodução do mosquito;
  • remoção do lixo e limpeza de vias públicas;
  • uso de telas de malha fina em janelas e portas.

A transmissão ao homem acontece a partir de animais silvestres ou cães domésticos, que funcionam como fontes de infecção. 

As fêmeas do mosquito flebótomo (mosquito-palha) podem picar animais doentes e posteriormente os humanos, transmitindo, assim, o agente entre animais e humanos.

A doença tem tratamento para os humanos, que é gratuito e está disponível na rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).  

90% dos casos, quando não tratados, evoluem para óbito, portanto, a população deve ser corretamente orientada. Os animais devem ser levados ao médico veterinário para orientação da conduta a ser tomada.

Toxoplasmose

Doença infecciosa causada por protozoário, Toxoplasma gondii. A infecção durante a vida intra-uterina (da gestante para o feto) é de grande risco, uma vez que o feto pode ter a sua formação afetada. 

Quanto ao tratamento, tanto a sua necessidade quanto a sua duração são determinados pelo médico após serem realizados os devidos exames. E quais são os principais sinais e sintomas?

  • febre e dores musculares;
  • dores de cabeça;
  • 90% das pessoas não apresentam sintomas;
  • ode causar cegueira nos recém-nascidos;
  • em crianças, problemas de visão podem aparecer até os 12 anos de idade, devido às lesões na retina, provocadas pelo parasito.

Ela pode ser prevenida e controlada das seguintes maneiras:

  • controle da população de felinos;
  • eliminar as fezes dos felinos diariamente em locais adequados;
  • higienizar a bandeja de fezes com água quente;
  • cercar tanques de areia para recreação em creches;
  • higienização adequada de frutas e verduras;
  • orientação de gestantes sobre a transmissão.

A transmissão ocorre através de:

  • fezes de felinos;
  • carne crua ou mal cozida;
  • verduras e vegetais mal higienizados e contaminados pelas fezes;
  • transfusão sanguínea;
  • da mãe para o feto, durante a gestação.

A toxoplasmose normalmente evolui sem sequelas em pessoas com boa imunidade, dessa forma, não se recomenda tratamento específico, apenas tratamento para combater os sintomas. 

Pacientes com imunidade comprometida ou que já tenham desenvolvido complicações da doença (cegueira, diminuição auditiva) são encaminhados para acompanhamento médico especializado.

O tratamento e acompanhamento da doença estão disponíveis, de forma integral e gratuita, pelo Sistema Único de Saúde. Em caso de toxoplasmose na gravidez, é importante o acompanhamento no pré-natal e a prática das orientações que forem repassadas pelas equipes de saúde.

Para gestantes e crianças, o Ministério da Saúde publicou protocolos com recomendações a serem seguidas, caso a caso.

Criptococose

Doença provocada pelo fungo Cryptococcus neoformans, encontrado no ambiente, em solos e vegetais contendo excretas de aves (pombos ou aves domésticas, como pássaros, papagaios, araras, maritacas, calopsitas, etc.) Seus principais sinais e sintomas são:

  • apresenta uma forma muito grave em pacientes com sistema imunológico vulnerável (idosos, HIV positivo, crianças);
  • pode causar lesões no cérebro e no pulmão, além de atingir outros órgãos como os rins, fígado, ossos e a pele;
  • a progressão da enfermidade é lenta, mas muitas vezes fatal.

A prevenção e controle são feitos das seguintes formas:

  • orientação da população sobre a forma de transmissão;
  • sempre umedecer o fundo da gaiola antes da limpeza;
  • jamais raspar os dejetos do fundo da gaiola a seco;
  • evitar condições que possam oferecer abrigo, água e alimento às aves externas ao domicílio.

A criptococose é transmitida pelas fezes dos pombos e aves domésticas aos seres humanos, pela inalação de resquícios dos dejetos das aves que contém o fungo.

A transmissão pode ocorrer pela inalação de partículas oriundas das fezes dos
pombos ou aves presentes no ar. 

Além disso, é possível contrair a doença durante a limpeza de gaiolas, pela raspagem a seco com espátulas. Outro modo de transmissão acontece em ambientes pouco ventilados que contenham resquícios de fezes de pombos ou outras aves. 

A escolha terapêutica para o tratamento dependerá da forma clínica de cada paciente e do estado imunológico do indivíduo. Os medicamentos antifúngicos mais utilizados para o tratamento são a anfotericina B, o fluconazol, o itraconazol e a fluocitosina.

Leptospirose

Doença causada pela bactéria do gênero Leptospira, transmitida pela urina de ratos e outros animais (cão, gato, boi, porco, cavalo), em que os sintomas aparecem em torno de 7 a 14 dias após a transmissão. 

Ao apresentar os sintomas, o paciente deve procurar um médico para a escolha do tratamento adequado. Os principais sinais e sintoma são: 

  • febre alta e dor de cabeça;
  • dores pelo corpo, principalmente nas panturrilhas; 
  • em casos mais graves, podem ocorrer alterações pulmonares, sangramentos e alterações urinárias.

E como fazer a prevenção e controle? 

  • obras de saneamento básico (drenagem de águas paradas, construção e manutenção de galerias de esgoto, coleta e tratamento de lixo, limpeza e canalização de córregos;
  • limpeza nas residências;
  • controle de roedores nos domicílios e ao redor deles, em terrenos baldios;
  • destino correto do lixo;
  • evitar o contato com água ou lama de enchentes e impedir que crianças nadem ou brinquem nessas águas.

A transmissão ocorre pela exposição direta ou indireta à urina de animais infectados, em áreas de lazer, riachos, lagos e durante as enchentes. 

A penetração da bactéria no corpo humano, ocorre pela pele com lesões ou até mesmo pela pele íntegra, quando imersa por longos períodos em água contaminada, devido a dilatação dos poros.

O tratamento da leptospirose é feito por meio de antibióticos. Alguns medicamentos de uso comum, como o ácido acetilsalicílico, devem ser evitados, porque aumentam o risco de complicações da leptospirose. 

As orientações médicas devem ser seguidas e o paciente deve-se manter bem hidratado durante todo o período de tratamento da leptospirose.

Febre amarela

A febre amarela é uma doença causada por um vírus cujo ciclo de vida acontece em mosquitos, principalmente nos mosquitos do gênero Aedes. E quais são os principais sinais e sintomas? 

  • dor abdominal;
  • dor de cabeça;
  • febre;
  • icterícia.

A única forma de evitar a febre amarela é a vacinação. A vacina é gratuita e está disponível nos postos de saúde em qualquer época do ano. 

É administrada em dose única a partir dos 9 meses de idade e é válida por 10 anos. Deve ser aplicada 10 dias antes de viagens para as áreas de risco de transmissão da doença.

A febre amarela é transmitida para as pessoas por meio da picada de mosquitos infectados. 

Em regiões de floresta, além da transmissão pelo mosquito do gênero Aedes, é possível a transmissão do vírus por mosquitos do gênero Haemagogus e Sabethes. Nessas regiões, os macacos são considerados principais reservatórios deste vírus.

Não existe tratamento antiviral específico. É apenas sintomático, com cuidadosa assistência ao paciente que, sob hospitalização, deve permanecer em repouso, com reposição de líquidos e das perdas sanguíneas, quando indicado.

Dengue 

O que é?

Doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Após um período de 5 a 6 dias surgem os sintomas da doença, que são:

  • febre alta (39° a 40°C) de início repentino e duração entre 2 a 7 dias;
  • dor de cabeça;
  • dores no corpo e articulações;
  • prostração;
  • fraqueza;
  • dor atrás dos olhos;
  • erupção;
  • prurido cutâneo;
  • perda de peso;
  • náuseas e vômitos.

O aparecimento de manchas vermelhas na pele, sangramentos (nariz, gengivas), dor abdominal intensa e contínua e vômitos persistentes podem indicar um sinal de alarme para dengue hemorrágica. Esse é um quadro grave que necessita de imediata atenção médica, pois pode ser fatal.

Para preveni-la e controlá-la, é preciso combater os focos de acúmulo de água, que são os locais propícios para a criação do mosquito transmissor da doença. 

Além disso, é muito importante não acumular água em latas, embalagens, copos plásticos, tampinhas de refrigerantes, pneus velhos, vasinhos de plantas, jarros de flores, garrafas, caixas d’água, tambores, latões, cisternas, sacos plásticos e lixeiras, entre outros.

A doença é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. Não há transmissão pelo contato direto com um doente ou suas secreções, nem por meio de fontes de água ou alimento.

Todas as pessoas com febre de menos de sete dias durante uma epidemia ou por casos suspeitos de dengue, cuja evolução não é possível predizer, devem procurar tratamento médico em que algumas rotinas estão estabelecidas para o acompanhamento, conforme a avaliação clínica inicial e subsequente.

A hidratação oral (com água, soro caseiro, água de coco), ou venosa, dependendo da fase da doença, é a medicação fundamental e está indicada em todos os casos em abundância.

Não devem ser usados medicamentos à base de ácido acetil salicílico e antiinflamatórios, como aspirina e AAS, eles pois podem aumentar o risco de hemorragias.

E a lagarta do caso que mencionamos?

As taturanas são, na verdade, larvas de borboletas ou mariposas. Lagartas de algumas mariposas apresentam o corpo recoberto por estruturas pontiagudas que, ao penetrar a pele humana, podem causar acidentes. 

Medidas preventivas

Confira algumas medidas que podem evitar esse tipo de situação: 

  • ter atenção com as crianças, pois muitas lagartas possuem colorido vibrante que pode atraiar a atenção e a curiosidade delas;
  • remover as lagartas que por acaso adentrarem a residência, com auxílio de pá, graveto, pinça, entre outros;
  • utilizar luvas quando manusear plantas.

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Referências utilizadas para falar sobre as zoonoses

  1. https://bvsms.saude.gov.br/06-7-dia-mundial-das-zoonoses/
  2. https://www.crmvpb.org.br/wp-content/uploads/2015/09/Manual_zoonoses_web.pdf 
  3. https://bvsms.saude.gov.br/dengue-16/

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AmandaMazetto

Amanda Mazetto

Formação em Medicina na Universidade Nove de Julho pelo FIES. Pesquisa no Instituto do Coração de São Paulo da Faculdade de Medicina da USP.